Milhares de manifestantes se reuniram novamente nesta quarta para protestar contra pacote econômico do governo
ATENAS - A polícia grega dispersou com gás lacrimogêneo os milhares de manifestantes reunidos em protesto contra o novo pacote de ajuste e privatizações submetido nesta quarta-feira, 29, ao voto do Parlamento e do qual depende o país para receber ajuda externa para evitar a falência.
Pouco antes de começar a votação, esperada para o meio-dia, a polícia conseguiu que a maior parte dos manifestantes abandonasse a praça de Sintagma, em frente ao Parlamento, segundo constatou a Agência Efe, após o crescente aumento de pessoas nesta manhã no local.
Muitos gregos aderiram aos protestos com lenços, óculos e máscaras para protegerem-se do gás lacrimogêneo da polícia. "Não estamos em dívida com ninguém, não vendemos e não pagamos", é um dos slogans mais escutados.
"Não somos uma juventude indignada. Somos uma juventude raivosa. Destruíram nosso presente e nosso futuro. Estão vendendo nosso país. Vai ocorrer aqui o mesmo que ocorreu na Argentina. O futuro da Grécia é negro", desabafou a Efe Artemis Moscholia, empregada de 28 anos.
O centro da capital apresenta um aspecto de devastação, já que os serviços municipais de limpeza, em greve, não recolheram os destroços deixados na véspera nos confrontos entre os grupos radicais e a polícia.
Milhares de policiais apostaram nos arredores do Parlamento para proteger o prédio.
Apoio para votação
O governo grego parece ter assegurada uma maioria suficiente para aprovar o plano de austeridade que autorize a chegada de novo financiamento externo, apesar da impopularidade das medidas que incluem aumento de impostos e cortes sociais.
A maioria governamental se viu escorada pela deserção de uma deputada da conservadora Nova Democracia, que abandona a disciplina de partido e votará a favor do plano de ajuste.
A isso se une a mudança de opinião de um dos deputados dissidentes da formação governamental socialista, com o que o primeiro-ministro, Giorgos Papandreou, contaria com o apoio de ao menos 155 deputados, quando são necessários 151 para aprovar os ajustes.
"Espero que com meu voto a favor contribua para levar o país para frente", disse a deputada conservadora Elsa Papadimitriou, contrário ao de sua formação.
O líder do partido, Antonis Samaras, desprezou qualquer acordo com os socialistas, apesar dos reiterados pedidos a favor do consenso por parte de Papandreou e das exigências de unidade provenientes da Comissão Europeia.
Não está descartada que outros deputados da Nova Democracia respaldem o plano de ajuste no valor de 78 bilhões até 2015.
Os analistas políticos apontam que o governo deve conseguir o apoio de vários deputados da oposição, concretamente de Aliança Democrática, com cinco cadeiras, que permitirá a seus deputados votar "segundo sua consciência".
A isto se une o fato de um dos deputados dissidentes do governamental grupo socialista no Parlamento grego decidiu mudar de opinião e apoiar o duro plano de ajuste.
"A votação é crucial para o futuro da Grécia e da Europa, e não posso assumir a responsabilidade que meu país empobreça nem a derrubada da União Europeia (UE)", afirmou o deputado Thomas Rombopoulos durante o debate parlamentar prévio à votação, que é uma questão de horas.
O outro deputado socialista dissidente Alexandros Athanasiadis não disse explicitamente que votará a favor ou contra do plano, mas manifestou seu desacordo com a privatização das empresas estatais de eletricidade e abastecimento de água.
A aprovação do plano abre à Grécia a possibilidade de receber um aporte de crédito pendente de 12 bilhões de euros em julho, com o que evitará a moratória.