Polícia invade mansão de Milosevic

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Disparando armas automáticas, uma tropa de choque da polícia sérvia invadiu, na madrugada deste sábado (horário local), a vila do ex-presidente iugoslavo Slobodan Milosevic para detê-lo. A operação ocorreu depois de várias horas de versões contraditórias sobre a prisão do ex-ditador e o fim do ultimato dos Estados Unidos ao novo governo iugoslavo para entregá-lo à Justiça internacional, sob pena de perder a ajuda econômica externa. Não ficou claro se o ex-ditador foi levado pelos policiais. Mais cedo, o vice-primeiro-ministro da Sérvia (que, com Montenegro, forma a Iugoslávia), Carko Kovac, havia dito que Milosevic fora levado ao Palácio da Justiça no centro da capital iugoslava. Ali, segundo Kovac, Milosevic fora notificado oficialmente das acusações que pesam sobre ele e conduzido de volta à sua residência. Ao chegar, acenou para cerca de 300 seguidores, conforme foto exibida pela Associated Press - embora algumas fontes dissessem tratar-se de um dublê. Entrevistado por telefone pela rádio B92 (independente), Milosevic confirmou a detenção e a posterior libertação. "Estou muito bem", disse ele. "No momento, tomo café aqui (em casa) com meus amigos. Realmente, estou muito bem." Segundo a CNN, agentes da polícia ingressaram na residência do ex-ditador disparando armas. Um fotógrafo mostrado pela rede de televisão teve uma das mãos feridas. A falta de informações oficiais por parte do presidente iugoslavo, Vojislav Kostunica, lançou novas dúvidas sobre esse novo lance, levantando suspeitas de que Milosevic poderia ser novamente preso ou submetido a um regime de prisão domiciliar. Por outro lado, Carko Kovac adiantou que o ex-ditador não será extraditado, num claro desafio ao Congresso dos EUA. Os deputados americanos ameaçaram cancelar os planos de ajuda econômica à Iugoslávia e também suspender os empréstimos concedidos ao país pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial. O secretário de Estado americano, Colin Powell, disse nesta sexta-feira que não tinha ainda em vista nenhum plano de ajuda à Iugoslávia. As especulações em torno de uma iminente detenção de Milosevic ganharam corpo no início da tarde desta sexta, quando cinco jipes com dezenas de policiais e ambulâncias postaram-se diante da luxuosa vila do ex-presidente iugoslavo, que controlou o país com mão de ferro durante dez anos. Pouco depois, chegava ao local a bancada do Partido Socialista Sérvio (PSS, do ex-ditador). "Temos aqui 300 homens dispostos a impedir a prisão do presidente, 200 entre o portão e os agentes e o restante no interior da vila", dizia o vice-presidente do PSS, Zivorac Igic, desmentindo categoricamente as notícias divulgadas pelas emissoras de rádio e televisão que já naquela altura anunciavam a prisão do ex-líder iugoslavo. Muitos membros do PSS portavam armas de fogo, facas, correntes e canos de ferro. Milosevic é acusado de crimes de guerra e genocídio de albaneses étnicos, mediante violenta campanha de limpeza étnica durante o conflito de Kosovo (em 1999) pelo Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia. É responsabilizado também pelas sangrentas guerras, principalmente a da Bósnia-Herzegovina, que fragmentaram a antiga Iugoslávia. Na Sérvia, é investigado por acusações de abuso de poder, enriquecimento ilícito, assassinatos, fraude eleitoral e traição.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.