27 de agosto de 2010 | 00h00
Protesto. Candidatos a imigrantes no norte do México protestam contra a impunidade dos crimes na fronteira
CIDADE DO MÉXICO
Sob forte segurança, diplomatas de Honduras, Equador, El Salvador e o cônsul-geral do Brasil no México, Márcio Araújo Lage, chegaram ontem à cidade de Reynosa, no Estado de Tamaulipas, na fronteira com os EUA, para identificar os corpos de 72 imigrantes assassinados no fim de semana - entre eles 4 que possivelmente seriam brasileiros. A identificação, contudo, deve ser lenta porque a maioria viajava sem documentos.
O embaixador do Brasil no México, Sérgio Augusto Abreu, informou ontem à TV Milenio que foram identificados os primeiros 15 imigrantes mortos, mas não deu mais detalhes. No entanto, uma fonte de Ciudad Victoria disse que entre os 15 identificados estão 1 brasileiro e 4 salvadorenhos. O chanceler de El Salvador, Hugo Martínez, confirmou que quatro salvadorenhos já foram identificados. Mas ele não quis revelar os nomes, pois as famílias ainda não foram notificadas.
O delegado regional Bolívar Hernández Garza não deu detalhes sobre os trabalhos de identificação nem disse como teriam acesso aos corpos, que estão no município vizinho de San Fernando. As autópsias começaram a ser feitas ontem na fazenda onde os corpos foram encontrados.
Os 72 imigrantes assassinados iam de caminhão para os EUA, quando foram interceptados, entre sábado e domingo, por traficantes que se identificaram como sendo do cartel Los Zetas.
Segundo a polícia, os 58 homens e 14 mulheres, incluindo algumas crianças e uma grávida, foram colocados enfileirados contra a parede de um galpão em uma fazenda da região. Obrigados a manter a cabeça abaixada, todos foram fuzilados com armas de grosso calibre. Em seguida, os traficantes terminaram o serviço com um tiro de misericórdia em cada um.
Entre os fuzilados estava um equatoriano, Luis Freddy Pomavilla. O último tiro entrou pelo seu pescoço e saiu pela mandíbula. Ele perdeu os sentidos e a noção do tempo. Quando acordou, percorreu 22 quilômetros até encontrar fuzileiros navais, a quem pediu ajuda. Segundo os marinheiros, ele foi encontrado às 7 horas de segunda-feira. Confuso, dizia que o massacre teria ocorrido "havia pouco tempo" e contou que os traficantes lhes haviam oferecido trabalho como pistoleiros, com salário mensal de US$ 2 mil. Ao recusar a oferta, foram mortos. Pomavilla indicou o local da chacina e, no dia seguinte, os corpos foram encontrados de mãos atadas e vendados.
Segundo ONGs que trabalham com imigração, os clandestinos passaram a ser uma fonte rápida de receita para os cartéis. De acordo com a Comissão Nacional de Direitos Humanos do México, cerca de 7.800 imigrantes foram sequestrados em 2008 e 2009. O pedido de resgate, em média, é de US$ 2.500 por pessoa. Quem não tem como pagar, é fuzilado, mas há relatos de vítimas que passam a trabalhar para o tráfico como motoristas, cozinheiras ou lavadeiras.
Ontem, o presidente Felipe Calderón anunciou medidas para intensificar a luta contra os cartéis de drogas. Entre as propostas, que irão ao Congresso, está a proibição da compra de imóveis em dinheiro. Além disso, o governo quer facilitar o confisco de propriedades dos cartéis.
PONTOS-CHAVE
Maio
Em uma mina de Taxco de
Alarcón, Estado de Guerrero, policiais encontraram 40 corpos que, de acordo com investigações, estariam em decomposição havia pelo menos 6 dias.
Junho
Quatro valas foram achadas no Estado de Quintana Roo, perto de uma zona residencial de Cancún. Depois de três dias de buscas, policiais encontraram 12
Cadáveres
Julho
Três valas comuns foram encontradas na cidade de Monterrey. A maior delas, em Benito Juárez, região metropolitana, tinha 51 corpos, 48 homens e 3 mulheres
Agosto
Em Miravelles, Estado de Sinaloa, a polícia encontrou em uma vala comum sete corpos, todos de mãos amarradas e enfiados em sacos pretos.
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