18 de maio de 2015 | 16h21
RENNES, FRANÇA - Um tribunal da França inocentou nesta segunda-feira, 18, dois policiais acusados de contribuir para as mortes de dois jovens em um subúrbio pobre de Paris, há uma década. As mortes dos jovens foram o estopim, na época, para semanas de distúrbios pelo país. O veredicto gerou o temor de uma nova onda de protestos violentos, ódio e desconfiança, similar à vista recentemente nos EUA.
As mortes de Bouna Traore e Zyed Benna lançaram uma controvérsia sobre o destino de projetos habitacionais isolados no subúrbio do país. Essas áreas são ocupadas pelos mais pobres, muitos deles com raízes africanas. Ao longo de três semanas de distúrbios, milhares de veículos foram incendiados, prédios públicos, queimados e milhares de pessoas acabaram presas. Foi decretado estado de emergência e um toque de recolher foi imposto na época, para lidar com a crise.
Os dois policiais poderiam pegar até 5 anos de prisão, caso tivessem sido condenados por deixar de auxiliar alguém em risco. Logo após o veredicto, uma jovem gritou no tribunal: "A polícia acima da lei, como sempre."
Na noite de 27 de outubro de 2005, Gaillemin, de 41 anos, estava perseguindo três adolescentes e viu o trio entrar na estação de energia, mas não os ajudou a evitar o risco de morte e nem chamou o serviço de emergência. Em vez disso, entrou em contato pela rádio policial: "Se eles entram no lugar, eu não pagaria muito pela pele deles", disse o policial na ocasião. Klein, de 38 anos, um policial inexperiente, estava coordenando as comunicações da rádio da polícia durante a tensa situação e ouviu o comentário.
Em março, o juiz que preside o caso insistiu que a polícia nacional como um todo não estava sob julgamento. Mesmo assim, advogados dos dois lados enfatizaram o significado mais amplo do veredicto.
As famílias das vítimas disseram que as vidas de Bouna, de 15 anos, e Zyed, de 17, poderiam ter sido salvas pelos policiais, que disseram no tribunal que sabiam que os jovens corriam perigo, mas insistiram que eram inocentes.
Vários grupos nos subúrbios franceses convocaram atos para esta segunda-feira, 18, após o veredicto. Um advogado das famílias, Jean-Pierre Mignard, disse que o veredicto era uma prova do "apartheid legal" na França. / ASSOCIATED PRESS
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.