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Polo intelectual vira principal front no Iêmen

Taiz, cidade conhecida por concentrar comércio e cultura iemenita, cai na linha de frente da guerra civil entre tribos e ditador

Por LAURA KASINOF , TAIZ e IÊMEN
Atualização:

Cidade antiga situada entre os penhascos escarpados do centro do Iêmen, Taiz era outrora conhecida como o centro intelectual e comercial do país. Hoje, ela é o centro de um longo e violento impasse político entre um presidente que se recusa a renunciar e manifestantes que querem sua saída. Com uma ferocidade nunca vista na capital iemenita, Sanaa, o governo tem atacado os manifestantes de Taiz. Na quarta-feira, forças leais ao presidente Ali Abdullah Saleh bombardearam bairros residenciais depois que militantes locais tomaram o prédio de um ministério. Sete civis foram mortos, incluindo duas crianças. Mas não se trata de uma batalha sem troco - não em Taiz, onde as tribos se uniram, se organizaram e revidaram. Cinco soldados também morreram na quarta-feira. Apesar de a atenção se concentrar na capital iemenita, onde os manifestantes estão acampados há dez meses e muitos morreram em confrontos esporádicos, a linha de frente está em Taiz, ou pelo menos parece ser assim que o presidente Saleh e seus aliados encaram a situação. Eles temem que Taiz se torne para o Iêmen o que Benghazi foi para a Líbia, uma capital improvisada da oposição, onde as forças que buscam a deposição do líder podem se unir, organizar e recrutar seguidores. "Os partidos de oposição acham que, se Taiz cair, eles podem convertê-la numa Benghazi e usá-la para pressionar o presidente", afirmou Hamoud al-Sofi, governador da Província de Taiz, em sua casa, protegido por uma guarda armada. "Esse não é um conflito entre manifestantes e o governo. É uma guerra, em todos os sentidos." Os prédios da cidade estão repletos de buracos feitos por tiros e explosões. O comércio está fechado, apartamentos foram abandonados e por todo lado há pichações denunciando o presidente Saleh. O intenso combate em Taiz ofuscou as manifestações, que reuniram apenas cerca de mil iemenitas mais inflexíveis, mas desarmados, enfrentando com coragem a violência e marchando nas ruas. As forças do governo intensificaram suas operações nas últimas semanas, matando pelo menos 30 civis em outubro. "Para o governo, Taiz é uma província importante", disse Shawqi Hail Saeed, morador e empresário. "Eles acham que é um caso muito grave. Precisam garantir que a cidade fique protegida, que não caia." Taiz é uma cidade à parte no Iêmen, considerada há muito tempo como o lugar onde a lei, a ordem e a sociedade civil floresceram. Os moradores orgulhavam-se de ter criado um ambiente mais pacífico já existente num país onde os homens normalmente carregam armas e um punhal no cinto, muito semelhante ao Velho Oeste. Em Taiz, isso sempre foi rejeitado. "Em Taiz, chegamos a um estágio em que você não via pessoas portando nem mesmo um punhal", disse Saeed. Agora não é raro ver homens nas ruas da cidade com uma Kalashnikov a tiracolo. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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