População afegã teme pelo pior

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Por Agencia Estado
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Depois da retirada de diplomatas, organizações não-governamentais (ONGs) e até mesmo das Nações Unidas do Afeganistão, a população local começa a temer pelo pior. Aqueles que podem, tentam seguir a mesma trilha dos estrangeiros e deixar o país. Em uma conversa telefônica com a Agência Estado, Stephanie Bunker, uma das poucas funcionárias ainda presentes no escritório da ONU para a coordenação de atividades no Afeganistão, contou que a população está "afetada psicologicamente" pelo abandono internacional e pela possibilidade de uma represália dos Estados Unidos. O Afeganistão é acusado de proteger em seu território o terrorista Osama bin Laden, um dos principais suspeitos de ter cometido os atentados em Nova York e em Washington no início da semana. Hoje, a informação era de que parte da população já começava a se movimentar para evacuar a capital Cabul. "A medida que a ajuda internacional diminui, o medo aumenta e o número de refugiados tende a crescer", afirma Stephanie, que hoje mesmo já estaria em Islamabad, no vizinho Paquistão. Diante dos conflitos no país, quase um milhão de pessoas deixaram suas casa no Afeganistão desde o começo do ano e, segundo estimativas do Alto Comissariado da ONU para Refugiados, existem cerca de 4 milhões de refugiados afegãos no Paquistão e no Irã. Das 32 províncias do país, 17 estão em conflitos armados e 25% da população, 6 milhões de pessoas, vive em extrema pobreza. Segundo a ONU, o mais grave é que, em algumas regiões do país, a pobreza é tão grande que as famílias sequer têm como sair das vilas onde vivem. Para as Nações Unidas, se a condição do país se mantiver assim, o Afeganistão pode se tornar, em breve, a pior crise humanitária existente no mundo. A tendência é de que esse cenário se torne realidade, já que sem a presença internacional, os projetos de assistência simplesmente podem desaparecer. Por enquanto, a ajuda humanitária ficará por conta de funcionários de nacionalidade afegã. Mas a ONU adverte que, com o inverno chegando, "os funcionários locais conduzirão suas atividades enquanto a situação permitir e a segurança prevalecer". A ONU possuía escritórios em Cabul, Jalalabad, Mazar, Kandahar, Herat em Faizabad. "Todos estão sendo levados para fora do país", afirmou Stephanie. Segundo a ONU, o Taleban auxiliou as centenas de entidades internacionais a retirarem seus funcionários do país, principalmente para o Paquistão. Mas não é apenas a ONU que está dependendo do Paquistão para achar uma solução para os conflitos no Afeganistão. Washington está pressionando as autoridades de Islamabad para que cooperem com iniciativas militares que os Estados Unidos possam conduzir na região. Um dos pedidos é que o Paquistão permita que seu espaço aéreo seja utilizado pelos norte-americanos. Outra solicitação de Washington é de que a fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão seja melhor controlada.

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