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Populismo dá fôlego a Keiko entre os mais pobres no Peru

Nos últimos quatro anos, a ex-primeira-dama e ex-deputada percorreu o interior pobre do país e estabeleceu alianças com políticos locais

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Por Luiz Raatz
Atualização:

Após perder as eleições de 2011 para Ollanta Humala, a filha do ex-presidente peruano Alberto Fujimori, Keiko Fujimori, apostou numa estratégia conhecida de líderes populistas na América Latina para chegar à vitória nas urnas. Nos últimos quatro anos, a ex-primeira-dama e ex-deputada percorreu o interior pobre do país e estabeleceu alianças com políticos locais e líderes comunitários - estratégia usada, por exemplo, por Hugo Chávez antes das eleições venezuelanas de 1998.

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Ao mesmo tempo em que Keiko lutava pela atenção do eleitorado mais pobre, apostou numa “renovação do fujimorismo”. Com uma nova roupagem, promessa de respeito aos direitos humanos e à democracia, fez um trabalho de base que lhe rendeu não apenas a dianteira no primeiro turno como a maioria no Congresso para a próxima legislatura. 

“A proposta de Keiko é uma direita mais popular, em contrapartida de uma direita elitista representada por Pedro Pablo Kuczysnki”, diz o cientista político Mauricio Zavaleta, da Pontifícia Universidade Católica do Peru. “Há muitos anos ela percorre o país. Num cenário onde os partidos são muito fracos, ela construiu uma agenda populista, prometendo projetos locais. Kuczysnki, por outro lado, não consegue se conectar com esses setores. É muito tecnocrata.”

Além disso, outro fator que faz com que a maior parte dos peruanos sejam seduzidos pelo “fujimorismo paz e amor” de Keiko é a queda no preço das commodities. Principal produtor de cobre da América do Sul, ao lado do Chile, e com grandes reservas de outros minerais, o país também sofreu com o impacto da queda dos preços das matérias-primas no mercado internacional a partir de meados de 2014. 

Desde o início da tendência de baixa nas commodities até o começo do ano, o cobre perdeu 37,5% de seu valor, segundo a cotação de minérios da Nasdaq. Desde fevereiro, os preços se recuperam cerca de 10%, mas ainda estão baixos. 

A queda nas receitas não ajudou a popularidade do presidente Humala. Tradicionalmente, desde a redemocratização do Peru, no ano 2000, os presidentes do país têm índices baixos de aprovação. Eleito como uma alternativa de esquerda, no entanto, Humala manteve a política econômica ortodoxa. Isso garantiu bons níveis de crescimento e inflação baixa nos últimos anos, mas a inversão de preços dos minérios no mercado mundial tem ameaçado esses resultados positivos. 

“O desaquecimento e a baixa aprovação à administração de Humala caminham juntas. Ele tem menos de 20% de aprovação. Com o baixo crescimento, Keiko virou uma opção viável”, acredita Zavaleta, que faz uma ponderação. “Apesar dessa tentativa de troca de roupagem, no fundo, Keiko persegue as mesmas políticas do fujimorismo clássico”, diz o analista político.

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