PUBLICIDADE

Populista Éric Zemmour anuncia candidatura à Presidência da França

Candidato da extrema direita lançou campanha com vídeo em que denuncia a imigração, o Islã e os 'poderosos'

Por Toni Cerdà e AFP
Atualização:

PARIS - O populista de extrema direita Éric Zemmour anunciou nesta terça-feira, 30, sua candidatura à presidência da França em 2022 para, em suas palavras, "salvar" o país de sua "decadência", em um discurso de tom apocalíptico e nostálgico.

PUBLICIDADE

"Eu decidi tomar nosso destino nas mãos para salvar o país do trágico destino que o espera", afirmou Zemmour em um vídeo, no qual denuncia a imigração, o Islã e os "poderosos". "Por isto decidi disputar a eleição", acrescentou.

A candidatura do controverso e midiático autor de best-sellers, de 63 anos e sem trajetória política, era uma espécie de "segredo conhecido", mas foi anunciada no momento em que seu avanço começa a estagnar nas pesquisas.

Éric Zemmour anunciou candidatura à Presidência da França em vídeo no qual critica temas como a imigração. Foto: YouTube via AFP

Com base em polêmicas, como suas críticas virulentas ao Islã, à imigração e ao que considera "politicamente correto", Zemmour se tornou um rosto conhecido no panorama midiático desde os anos 2000, impulsionado pelo canal CNews do magnata Vincent Bolloré.

Seu domínio da imagem foi demonstrado novamente neste vídeo de 10 minutos, no qual traça um paralelo visual com a convocação à resistência do general Charles de Gaulle em 1940 e apela aos cidadãos.

Mesmo sem um grande partido por trás, "Z", como é chamado por seus simpatizantes, é comparado a Donald Trump. A capa de seu livro mais recente La France n'a pas dit son dernier mot ("A França não disse sua última palavra", em tradução livre) recorda uma publicação do polêmico ex-presidente dos Estados Unidos.

"Ele nos vendeu que era o Trump francês. É um Trump da 'Wish', a plataforma que vende coisas que não funcionam, que são falsas", disse o porta-voz do governo, Gabriel Attal, à emissora Europe 1.

Publicidade

Mulher passa por poster com foto de Zemmour e dizeres 'nosso Trump'; candidato disputará votos da extrema direita em 2022. Foto: AP Photo/Bob Edme, File

O porta-voz do governo também questionou sua "capacidade para representar" a França depois que foi vaiado durante uma visita no sábado a Marselha, em um evento que terminou com uma troca de gestos obscenos com uma cidadã que passava pela área.

Embora depois tenha classificado o gesto como "pouco elegante", este representou o culminar de uma viagem marcada por polêmicas, como quando apontou um fuzil para jornalistas e provocou a revolta dos sobreviventes dos atentados de 13 de novembro de 2015.

'Grande substituição'

A maior preocupação dos franceses é com o poder aquisitivo, mas suas propostas se concentram na imigração, que considera responsável por uma tentativa de acabar, em sua visão, com a "identidade francesa", por meio da "grande substituição".

"Vocês se sentem estrangeiros em seu próprio país", afirma Zemmour no vídeo, no qual mistura imagens da França dos chamados "Trinta Gloriosos", os anos de crescimento econômico pós-guerra, e vídeos de violência e migrantes.

Éric Zemmour faz gesto obsceno a mulher que o insultou durante visita a Marselha, no sul da França. Foto: Nicolas Tucat/ AFP

Próximo a governantes iliberais da Europa como o húngaro Viktor Orbán, Zemmour já propôs um referendo sobre a imigração, acabar com o reagrupamento familiar e proibir nomes estrangeiros para crianças.

Suas propostas mais radicais provocaram indignação da classe política, mas não impediram que os temas abordados por ele entrassem no debate político e alterassem o discurso de candidatos da direita e extrema direita.

Publicidade

Zemmour avançou nas pesquisas, que chegaram a indicar sua presença no segundo turno na vaga da candidata histórica da extrema direita francesa, Marine Le Pen. Mas ele parece ter atingido o teto: a pesquisa mais recente o mostra em terceiro, atrás do presidente Emmanuel Macron e de Le Pen.

O anúncio de sua candidatura acontece em pleno processo de escolha do aspirante do partido da direita tradicional, Os Republicanos, para a presidência em abril.

Zemmour durante viagem a Marselha; candidato a Presidência é próximo de líderes iliberaise defende bandeiras populistas. Foto: AP Photo/Daniel Cole

À noite, Zemmour deve ser entrevistado pelo principal canal privado do país TF1, uma hora antes do último debate dos cinco pré-candidatos do Os Republicanos no canal público France 2.

Seu primeiro comício eleitoral acontecerá no domingo na sala de espetáculos Zénith de Paris. Grupos antifascistas e de esquerda já convocaram um protesto para "calar Zemmour".

Após a confirmação de sua candidatura, este homem criado em uma modesta família judaica de origem argelina precisa agora buscar apoios políticos e econômicos, depois de perder o respaldo do financista Charles Gave.

Condenado duas vezes por discursos de ódio contra árabes, negros e muçulmanos, depoimentos de mulheres compilados pelo site Mediapart também o acusam de agressão sexual, embora nenhuma denúncia formal contra ele tenha sido apresentada./ AFP

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.