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Por que e como o petróleo é a causa da guerra ao Iraque

Por Agencia Estado
Atualização:

O iminente risco de guerra entre os Estados Unidos e o Iraque e os mais baixos níveis de reservas norte-americanas de petróleo nos últimos 27 anos deixam cada vez mais evidente que os interesses econômicos são a base do conflito no Golfo Pérsico. Por um lado, as três principais companhias que têm hoje os maiores laços empresariais com o ditador iraquiano Saddam Hussein - TotalFinaElf (França), Lukoil (Rússia) e a China´s National Petroleum Company (China) - possuem contratos de US$ 41 bilhões com o Iraque. Não por acaso, França, Rússia e China, membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU com direito a veto, se opõem à guerra. Por outro, as principais companhias petrolíferas dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha acreditam que a invasão do Iraque é a única forma de terem acesso ao petróleo do país. Os iraquianos têm as maiores reservas de cru do mundo depois da Arábia Saudita, com volume cinco vezes mais do que os Estados Unidos. Com a opção de Washington pela intervenção militar, as companhias norte-americanas e britânicas teriam assegurada sua presença dominante no Iraque frente aos seus concorrentes franceses, russo e chineses. "A enfática resistência de França em torno do início da guerra pode ser justificada em grande parte pela forte presença de companhias petrolíferas dos países europeus em território iraquiano", avalia o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e sócio do Centro Brasileiro de Infra-estrutura (CBIE), Adriano Pires. Gigantes estão nervosas mas entusiasmadas Um informe do Fórum de Política Global, instituto das Nações Unidas, ao qual teve acesso a "Europa Press" (EP) e noticiado pelo jornal espanhol "El Mundo", mostra claramente o embate de interesses sobre o Golfo Pérsico. "O documento revela uma crescente preocupação das gigantes ExxonMobil, ChevronTexaco, British Petroleum e Royal Dutch Shell com a possibilidade de perder a liderança mundial por não terem assinado nenhum contrato de exploração de petróleo no Iraque", diz o documento da ONU obtido pela EP. "As companhias dos EUA e do Reino Unido estão, por um lado, nervosas. Mas, por outro, muito entusiasmadas com as operações de guerra iniciadas por Washington, já que vêem a intervenção como único meio de desbancar seus rivais e estabelecer uma presença dominante no lucrativo mercado de produção de petróleo no Iraque", acrescenta o informe da ONU. É petróleo demais no Iraque De acordo com estimativas, o subsolo iraquiano tem capacidade para assumir 250 bilhões de barris de cru, cujo valor estimado no mercado é de US$ 2,9 trilhões descontados os custos de produção. Outros estudos citam 112 bilhões de barris, que valeriam US$ 3,36 trilhões. Ou ainda mais, US$ 5,7 trilhões, referentes a 190 bilhões de barris. O documento da ONU conseguido pela "Europa Press" constata que o Iraque tem atualmente reservas provadas de 112,5 bilhões de barris de cru, que representam 11% das reservas mundiais, embora outras fontes estimem em 400 bilhões de barris assim que todas as regiões do país venham ser exploradas, transformando-se na região do mundo com maiores reservas do planeta, superando inclusive a Arábia Saudita. Além disso, a produção de um barril de petróleo iraquiano custa às empresas apenas US$ 1,00, incluindo todos os processos de exploração, produção e refino, similar ao custo da Arábia Saudita, e US$ 4,00 menos que o custo em outras regiões, como Malásia e Oman. Independentemente das estimativas dos serviços de inteligência do Ocidente, o certo é que cada companhia com acesso ao petróleo iraquiano conseguiria lucros de US$ 29 bilhões por ano (50% ficariam com o governo), que representam 2/3 dos lucros globais alcançados pelas cinco maiores e mais importantes companhias do setor. "Infelizmente, não tem só o lado da fraternidade do governo francês por trás da oposição à guerra. A TotalFinaElf é responsável por grande parte dos 2,5 milhões de barris de petróleo extraídos diariamente do Iraque", comenta Pires. Segundo ele, apenas com uma guerra será criada condição real para que empresas norte-americanas possam explorar o imenso potencial de reservas de petróleo do Iraque.

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