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Por que não em Las Vegas?

Republicanos e democratas deveriam parar de usar o conflito árabe-israelense para obter voto e dinheiro para a campanha

Por Thomas Friedman (The New York Times)
Atualização:

WASHINGTON - Serei rápido. Tenho uma pergunta e uma observação sobre a visita de Mitt Romney a Israel. A pergunta é: se a viagem era só para satisfazer o capricho do magnata judeu de direita Sheldon Adelson, favorável a Bibi Netanyahu, por que não fizeram a mesma coisa, só que em Las Vegas? Até que ponto Romney precisa se rebaixar para dizer o que a direita israelense quer ouvir e qual seria o total de doações que Adelson colocaria na campanha em troca. Na verdade, Las Vegas seria mais apropriada que Jerusalém. Poderiam ter construído um Muro das Lamentações de plástico e economizado gasolina. A observação é a seguinte: grande parte do que há de errado nas relações entre EUA e Israel pode ser encontrada na viagem de Romney. Nos últimos anos, o Partido Republicano decidiu fazer de Israel um assunto controvertido. Para conseguir mais votos e dinheiro, os republicanos decidiram ser mais complacentes com Israel do que os democratas. Essa corrida empurrou o Partido Democrata para a direita do Oriente Médio e obrigou a equipe de Barack Obama a encerrar o processo de paz e abandonar as exigências para que Israel congele os assentamentos. Isso criou em Washington uma cultura na qual o Departamento de Estado reluta em falar publicamente da política americana com medo de ser denunciado como anti-Israel. Acrescente-se a isto a influência do dinheiro na política e o fato de o principal lobby judeu, o Aipac, ter se tornado o árbitro que decide quem são os congressistas pró e contra Israel, e, portanto, determina quem deve ou não receber as doações. Por isso, não há sinal vermelho para Israel nos EUA. Não surpreende que os colonos agora se gabem que o jogo acabou, que eles ganharam, que a Cisjordânia continuará com Israel para sempre - eles não se importam com o que significará para o futuro de Israel quando a democracia judia absorver todos os palestinos. Foi nesse ambiente que Romney mostrou-se ainda mais complacente. Romney teve tempo para um café da manhã a US$ 50 mil por cabeça com doadores judeus americanos em Jerusalém, mas não teve duas horas para ir a Ramallah encontrar-se com o presidente Mahmoud Abbas ou para compartilhar publicamente algumas de suas ideias sobre o processo de paz. Mas teve tempo de dizer a seus anfitriões que os israelenses são culturalmente mais empreendedores do que os palestinos. Hoje, Israel é uma impressionante colmeia de inovações. Os judeus deveriam se orgulhar disso. Mas, se Romney tivesse ido a Ramallah, teria visto também uma colmeia de empreendedorismo, embora menor. O talento empresarial palestino também construiu os países do Golfo Pérsico. Em suma, Romney não tinha ideia do que estava falando. A respeito da paz, a diplomacia palestina é uma confusão e eu ainda não sei se eles poderão ser parceiros num acordo sobre dois Estados, até mesmo com um governo israelense liberal. Mas sei de uma coisa. É do interesse de Israel buscar e fazer com que os EUA sigam buscando ideias criativas para uma solução de dois Estados. Do contrário, Israel está condenado a ser um apartheid. Os três estadistas americanos que mais contribuíram para tornar Israel mais seguro falaram todas as verdades sem rodeios: Jimmy Carter, que ajudou a forjar uma paz duradoura entre Israel e Egito; Henry Kissinger, que criou os acordos de desengajamento após a guerra de 1973; e James Baker, que planejou a conferência de paz de Madri. Todos sabiam que, para avançar, era preciso enfrentar ambos os lados. Portanto, que tal todos vocês políticos americanos - republicanos e democratas - pararem de alimentar o conflito para obter ganhos políticos? Parem de usá-lo como pano de fundo para arrecadar recursos. Parem de tornar as coisas piores dizendo aos israelenses intransigentes tudo o que eles querem ouvir só para obter votos e dinheiro. Há vidas em jogo. Se vocês não pretendem fazer nada construtivo, fiquem de fora. Eles podem criar problemas suficientes por si próprios. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA *É COLUNISTA

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