Por segurança, jornalistas iraquianos têm que mudar de nome

Agência de notícias Aswat al-Irak, com sede no Iraque, também teve de se mudar

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Por Agencia Estado
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A nova agência de notícias independente iraquiana Aswat al-Irak (Vozes do Iraque) teve que mudar de sede, pois ficava em uma área muito perigosa de Bagdá, e os jornalistas precisam mudar de nome a cada dois meses, por motivos de segurança. "Mas ninguém vai nos impedir de continuar informando sobre o que está acontecendo no Iraque com objetividade e profissionalismo", disse Zuhair Al-Jezairy, diretor da Aswat al-Irak. Quando começaram a surgir veículos de comunicação no Iraque após a queda do regime de Saddam Hussein, em 2003, os responsáveis pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) no país perceberam a importância de que houvesse uma fonte de informação independente. Até então, só havia existido no Iraque a agência de notícias oficial INA. Os novos jornais, rádios e redes de televisão nasceram com poucos recursos, sem uma estrutura que pudesse garantir uma cobertura ampla do dia-a-dia iraquiano. Além disso, os veículos de comunicação tinham necessidade de receber informação imparcial. Em outubro de 2004, foi criada a Aswat al-Irak, financiada principalmente pela Agência Espanhola de Cooperação Internacional (Aeci) - que investiu cerca de US$ 1,5 milhão na nova agência -, mas que já recebeu ajuda da União Européia e do Pnud. A criação da Aswat al-Irak foi "um dos projetos que obteve mais êxito no campo da comunicação iraquiana", afirmou o diretor do Pnud no Iraque, Paolo Lembo. Jezairy e Lembo participaram com outros 150 jornalistas, comunicadores, parlamentares, políticos e representantes de ONGs iraquianas de uma conferência internacional sobre liberdade de expressão e desenvolvimento dos meios de comunicação no Iraque. O evento, realizado em Paris, foi organizado pelo Pnud, pela Unesco e pela Comissão de Comunicação e Mídia iraquiana (CMC). A conferência começou na segunda-feira e termina hoje. O objetivo do evento era analisar a situação dos meios de comunicação no Iraque, a segurança e proteção dos jornalistas, a ajuda internacional para a mídia do país e a independência editorial e rentabilidade econômica. Três veículos de comunicação espanhóis - a agência EFE, a Rádio Nacional da Espanha e o jornal El País - contribuirão este ano para a melhoria da qualificação dos profissionais da Aswat al-Irak, com programas de formação dos jornalistas e técnicos da agência iraquiana. Estas tarefas até agora eram realizadas pela Fundação Reuters. "Precisamos que nossos jornalistas recebam formação para cumprir melhor sua missão de contar o que ocorre no Iraque, seguindo o modelo do que é feito em outros países", afirmou Jezairy. Inicialmente, a idéia do Pnud era possibilitar a troca de notícias através da internet, que possibilitaria a jornalistas e veículos de comunicação iraquianos publicar suas notícias e artigos. Os repórteres foram sendo contratados e formados para trabalhar em um ambiente profissional e democrático, o que permitiu a realização de uma boa cobertura das eleições de janeiro de 2005 e do processo constitucional. Atualmente, a agência iraquiana conta com cerca de 50 correspondentes em todo o Iraque e serviços de notícia em árabe, curdo e inglês. O serviço de notícias da Aswat al-Irak é utilizado por 50 jornais iraquianos, 14 canais de TV e 13 emissoras de rádio, por enquanto, disponível a todos que quiserem consultar. "Porém, em março, vamos começar a cobrar pelo acesso às nossas informações, pois precisamos de recursos financeiros próprios para garantir a independência editorial", acrescentou Jezairy. Neste ano, a agência deverá lançar os serviços de fotografia, rádio, vídeo e multimídia. "Mas vamos aos poucos, pois as dificuldades são enormes. Só para entrar na zona verde nossos jornalistas têm que atravessar quatro controles. Ao sair, devem mudar de veículo para evitar atentados ou seqüestros", disse Jezairy. Em 2006, foram mortos no Iraque 64 jornalistas e colaboradores dos veículos de comunicação, segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

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