Posição do México na ONU incomoda os EUA

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Por Agencia Estado
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A resistência mexicana em apoiar os EUA na guerra contra o Iraque causou uma grande decepção em Washington, ainda mais por vir de um país fronteiriço e sócio comercial importante no acordo comercial que une ambos as nações e o Canadá, o Nafta. O México, atualmente com assento no Conselho de Segurança da ONU, vem reluatndo em apoiar a posição linha-dura do governo americano. Mesmo a influência que poderia ter o chefe do governo espanhol, José María Aznar, aparentemente não foi suficiente para mudar a opinião do presidente mexicano, Vicente Fox, sobre a necessidade de esperar mais tempo antes de uma opção pela guerra. Aznar visitou Fox nesta semana, a caminho de Washington. O México, como a Espanha, é apenas um dos membros temporários (por dois anos) do CS. Mas seu voto valerá tanto quanto o de qualquer um dos cinco membros permanentes e com poder de veto no Conselho, quando o comitê tomar uma decisão sobre o Iraque. Na realidade, a Bulgária parece ser o aliado mais firme dos EUA na atual formação do CS, depois da Grã-Bretanha e da Espanha. O Chile, outro membro latino-americano do Conselho, ainda não decidiu se votará a favor ou contra um ataque ao Iraque. A oposição mexicana à política dos EUA para o Iraque vem desde o ano passado. Já em novembro, o então chanceler Jorge Castañeda disse que as pressões americanas sobre seu país, para que aprovasse uma primeira resolução contra o governo iraquiano, ameaçavam "a unidade" do CS. Castañeda, um acadêmico internacional de tendência esquerdista, deixou o cargo em meados de janeiro, frustrado com o que parece ser o grande desalento bilateral: um acordo no campo da migração mexicana, que era considerado por Fox como um provável êxito de sua administração de seis anos. Luis Ernesto Derbez, o substituto de Castañeda, despertou grandes expectativas na Casa Branca no momento em que Bush estava concentrado nos temas do Afeganistão, Iraque e Coréia do Norte. Para desânimo de ambas as partes, Derbez percebeu rapidamente que a imigração já não era um tema da agenda bilateral; e o secretário de Estado americano, Colin Powell, se rendeu à evidência de que Derbez seguia a política prévia de Fox em relação ao Iraque. Em uma decisão sem precedentes, Derbez levou nesta semana o caso dos migrantes mexicanos que vivem nos EUA à Corte Interamericana de Direitos Humanos, para pedir que o tribunal declare que os direitos fundamentais dos mexicanos nos EUA, tais como a igualdade e a não-discriminação, independem de sua condição migratória. O pedido, apresentado perante uma comissão da Organização dos Estados Americanos (OEA), cuja jurisdição os EUA não reconhecem, é apenas um outro recurso de que o México se utiliza para atender às necessidades de cerca de 4 milhões de mexicanos que vivem ilegalmente no país vizinho. Após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, o governo mexicano, ao ver que as possibilidades de um acordo desapareciam, começou a "aperfeiçoar" um documento de identidade para os mexicanos nos EUA, a que denominou "matrícula consular". A matrícula consular começou a ser emitida há mais de 100 anos - em 1871 -, mas só depois dos ataques terroristas o México conseguiu que fosse aceita por alguns americanos e algumas agências estatais para outorgar aos mexicanos sem passaporte licença para dirigir e autorização para outras gestões. Alguns legisladores, muitos dos quais se opõem à matrícula consular, criticaram não apenas a posição de Fox nas Nações Unidas em relação ao Iraque como também seu distanciamento dos "objetivos comuns" com os EUA em outros temas - tais como as resoluções para favorecer Israel. Em uma carta enviada a Fox no final de janeiro, 29 membros do Congresso americano lhe fizeram notar sua "profunda preocupação" com a posição do México de votar pelo "não" em resoluções que dizem respeito ao Oriente Médio, com o que o governo mexicano "castigava injustamente" Israel. Mark Falcoff, analista do American Enterprise Institute, disse que a única razão pela qual os americanos parecem não entender o México era a de "não terem prestado atenção" ao que historicamente ocorria nesse país. "O México encontra parte de sua identidade nacional na rejeição a qualquer dependência dos EUA", disse Falcoff no programa ?The O´Reilly Factor? da cadeia Fox de televisão.

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