Powell aconselha Sharon a rever declaração de guerra a palestinos

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Por Agencia Estado
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O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, disse nesta quarta-feira que a declaração de guerra do primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, contra os palestinos não produzirá nenhum resultado e deve ser reconsiderada. "Se você declara guerra aos palestinos e pensa que pode resolver o problema vendo quantos palestinos podem ser mortos, não sei se isso o levará a algum lugar", ponderou Powell. Em declarações na Câmara dos Representantes sobre o orçamento do Departamento de Estado, Powell assumiu posições duras em relação a Sharon, contrastando com a reação do presidente George W. Bush à espiral de violência no Oriente Médio. Enquanto Bush culpava nesta terça-feira apenas os palestinos, Powell confrontou Sharon, que declarou publicamente guerra aos palestinos e adiantou que Israel vai continuar com seus sangrentos ataques retaliatórios contra atentados terroristas. "O senhor Sharon tem de dar uma dura olhada em suas políticas e ver se elas vão funcionar", comentou Powell. Os palestinos estavam vivendo "enormes dificuldades", afirmou Powell, incapazes de chegar a seus empregos. E, acrescentou, "todos são cidadãos de segunda classe, já que você não pode sair à noite" por temor de ataques. Tanto israelenses quanto palestinos estão numa trágica situação, afirmou. Ao mesmo tempo, Powell não poupou críticas a Yasser Arafat. Ele disse que, apesar de o líder palestino estar confinado por Israel a seus escritórios na Cisjordânia, Arafat pode usar o telefone e é capaz de ordenar a suspensão dos ataques. "O senhor Arafat pode esforçar-se mais, e nós temos de nos esforçar mais", avaliou Powell. O secretário afirmou que iniciativas de paz da Arábia Saudita, Egito e Estados Unidos não conseguirão nada caso os confrontos persistam. "Você pode aparecer com todas as idéias do mundo, mas elas não vão nos fazer avançar até que a violência seja interrompida", considerou. Por seu lado, o representante Dan Miller criticou duramente Israel. Ele disse que vigilantes israelenses estão explodindo instalações palestinas. Bush tem apoiado sem muito entusiasmo uma iniciativa de paz do príncipe herdeiro saudita, Abdullah, considerando-a um "desdobramento muito positivo" e afirmou que concorda com sugestões israelenses sobre conversas preliminares com o monarca da Arábia Saudita. Abdullah tem oferecido paz e segurança a Israel em troca de todos os territórios árabes capturados na Guerra dos Seis Dias, de 1967. Até agora, a proposta está sendo apresentada por sauditas e norte-americanos como uma visão, não como um documento de paz. A Síria indicou nesta quarta que apoiaria com reservas a proposta caso ela seja apresentada pelo príncipe na cúpula da Liga Árabe prevista para o fim do mês no Líbano, aumentando suas chances de aprovação no encontro. O presidente israelense, Moshe Katzav, se dispôs a ir à Arábia Saudita, com quem o Estado judeu não tem relações diplomáticas, para discutir a proposta. Mas os sauditas se mostraram frios à idéia. Numa entrevista coletiva conjunta com o presidente egípcio, Hosni Mubarak, nesta terça-feira à noite na Casa Branca, Bush disse que estimava "aqueles em Israel que tentavam descobrir exatamente o que (a proposta) significa". Bush também elogiou a proposta de Mubarak de agir como mediador numa eventual reunião entre Sharon e Arafat, que "ajudará a levar à paz, espero". Em Israel, Sharon deu a conhecer que não via motivo para se encontrar com Arafat enquanto palestinos continuam a atacar israelenses. Mubarak disse num discurso em Washington que se recusa a encontrar Sharon sem a presença de Arafat. O assessor de política externa do príncipe Abdullah, Adel al-Jubeir, informou que líderes de mais de 40 países apóiam a iniciativa saudita, mas "o senhor Sharon não a apóia. Metade de seu governo não a apóia". "Não vemos nenhuma indicação de que o governo israelense aceita sequer o princípio da retirada", afirmou Al-Jubeir em entrevista à rede de tevê norte-americana PBS. Tribuna belga adia julgamento de Sharon Um tribunal belga adiou nesta quarta-feira pronunciamento sobre a competência da Justiça belga para julgar o primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, por crimes de genocídio. O chefe do governo israelense é apontado como responsável pelo massacre de civis palestinos em setembro de 1982, nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, no Líbano. Na época, Sharon ocupava o cargo de ministro da Defesa de Israel. O processo contra Sharon na Justiça belga foi aberto por parentes das vítimas. A legislação belga permite o julgamento no país de estrangeiros acusados de crimes contra a humanidade. Os juízes disseram que adiaram o pronunciamento para dar mais tempo aos advogados (das vítimas e de Sharon) de "reforçar" seus argumentos sobre a competência do tribunal. Os advogados de Sharon alegam que ele goza de imunidades porque exerce a chefia do governo.

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