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Powell acusa Saddam de tentar dividir o Conselho de Segurança

Por Agencia Estado
Atualização:

Sem garantia de que conseguirá sequer o apoio mínimo de nove países do Conselho de Segurança das Nações Unidas para aprovar uma resolução que legitime uma ação militar para desarmar o Iraque, o secretário de Estado americano, Colin Powell, acrescentou mais um pecado à longa lista de culpas de Saddam Hussein, acusando-o de ter "dividido (o Conselho) em facções". "Há divisões entre nós", reconheceu o secretário de Estado, falando no Centro de Estudos Estratégicos Internacionais, apenas algumas horas depois de os chanceleres da França, da Alemanha e da Rússia terem anunciado que bloquearão qualquer decisão do Conselho que conduza à guerra. "Se essas divisões continuarem, elas convencerão Saddam Hussein de que ele está certo; mas eu lhes garanto, ele está errado". Num mensagem por vezes conflitante com outras emitidas pela administração e pela ONU, Powell disse que o conflito não é inevitável. "Se o Iraque cumprir (a resolução 1441 do Conselho de Segurança) e se desarmar, mesmo nesta hora tardia, é possível evitar a guerra", afirmou. Mas ele se recusou a atribuir maior significado à decisão de Bagdá de destruir seus mísseis Al-Samoud-2, uma medida que, apenas alguns minutos antes, o chefe de inspetores de armas da ONU, Hans Blix, classificara de "verdadeiro desarmamento" por um país que, segundo ele, tem hoje uma capacidade bélica "muito, muito inferior" à que tinha na Guerra do Golfo, em 1991. Falando pouco antes, durante uma entrevista coletiva no Pentágono, o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, disse que Saddam Hussein ainda pode evitar o uso da força. "Para fazê-lo, ele terá que se desarmar e deixar o país", afirmou o chefe do Pentágono. Powell antecipou o argumento que deverá usar depois de amanhã, quando ouvirá mais um relatório de Blix ao Conselho de Segurança, dizendo que "concessão não é cumprimento". Segundo o chefe da diplomacia americana, "esses gestos muito pequenos e muito tardios do Iraque destinam-se a enganar, a adiar a ação... e a dividir a comunidade internacional". Ele disse que a único tema real que resta para ser examinado é se Saddam Hussein "tomou a decisão estratégica, a decisão política de abrir mão dessas terríveis armas de destruição em massa". Depois do discurso, Powell foi perguntado pelo ex-conselheiro de Segurança da Casa Branca no governo Carter, Zbignew Brzezinski - um crítico da atual estratégia de Washington -, se a administração consideraria apoiar um processo de inspeção com uma série de prazos rígidos para a entrega ou destruição pelo Iraque de armas específicas. Sua resposta foi negativa. Em seu discurso, o secretário de Estado procurou reverter a impressão dada por outros altos funcionários, nos últimos dias, segundo a qual o presidente George W. Bush já teria desistido de tentar obter um aval internacional para iniciar uma "guerra preventiva" contra o Iraque. Enquanto isso, o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer, apressou-se a esclarecer hoje que Bush não ameaçou "disciplinar" o México por sua relutância em apoio à posição americana no Conselho de Segurança. "Ele falou em sentido de disciplina", disse o porta-voz. A administração Bush continuará a tentar aliciar apoio para uma possível votação na semana que vem. Altos funcionários disseram hoje que, dependendo do sucesso da operação, Bush poderá dar um ultimato a Saddam Hussein, fixando um prazo de dias para ele se desarmar, em discurso ao país, na semana que vem.

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