Dispostas em painéis na Praça Bolívar, coração da capital venezuelana, as imagens do ex-presidente Hugo Chávez e de Simón Bolívar, libertador da Venezuela, retiradas da Assembleia Nacional terça-feira por ordem do novo chefe do Legislativo, o deputado oposicionista Henry Ramos Allup, se transformaram em ponto de peregrinação de simpatizantes chavistas.
Nesta sexta-feira, centenas de pessoas se aglomeraram em torno das imagens para tirar fotos ou protestar contra a atitude do presidente da Assembleia. A maioria era de chavistas que aproveitaram a atitude de Ramos Allup para tentar desgastar o oposicionista. “Foi um ato de terrorismo”, protestou Freddy Duarte, que se identifica como “revolucionário”.
Em uma tenda montada ao lado das imagens, integrantes de movimentos sociais simpáticos ao governo do presidente Nicolás Maduro discursavam contra a nova Assembleia. A retirada das imagens era usada como preâmbulo para que líderes reproduzissem o discurso de Maduro sobre as supostas ilegalidades cometidas pelo Congresso.
O compositor Franklin Pérez Shalon cantava uma música feita especialmente para o acontecimento nos microfones de uma emissora de TV alinhada com o governo. Segundo ele, a atitude de Allup foi um “atrevimento” que pode acabar fortalecendo Maduro por despertar a ira de defensores de Chávez que estão insatisfeitos com o atual governo e votaram na oposição nas eleições parlamentares.
O microempresário Jorge Silva, que diz ter votado na oposição, afirmou que a retirada dos retratos foi um “erro estratégico”. “Isso vai despertar a ira de muitos chavistas que estão em suas casas envergonhados com a situação do país”, avaliou.
O comerciante Pedro Aquino, que se autointitula “chavista não dogmático” e desgostoso com o governo Maduro, qualificou a atitude de Allup como um “tiro no pé”.
Poucas quadras adiante, a dona de casa Marilena Cruz era das poucas a elogiar a ação do chefe do Legislativo. “Chávez incentivou um culto à sua personalidade e sua imagem está espalhada por todos os cantos. Temos de apagar isso e era preciso começar por algum lugar.”
Na quinta-feira, o prefeito de Caracas, o governista Jorge Rodríguez, reagiu prometendo colocar imagens de Chávez e Bolívar em todas as ruas da cidade. Ontem, a capital venezuelana amanheceu com centenas de grafites com a rosto de Bolívar e a frase “eles têm a Assembleia, nós temos as ruas”.
Na verdade, o rosto de Chávez já está em quase toda a cidade. Pontes, viadutos, muros, banners ao longo das principais avenidas e principalmente prédios públicos estampam enormes retratos do ex-presidente.