Prefeito de San Antonio ganha status de nova estrela democrata

Em Charlotte, na festa do partido, Julian Castro recebeu a mesma tarefa dada a Obama na convenção de 2004

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Por Denise Chrispim Marin , CHARLOTTE e EUA
Atualização:

No protocolo das convenções dos dois partidos americanos, o segundo mais importante discurso vem do primeiro dia é reservado para uma estrela. O carismático governador de New Jersey, Chris Christie, foi o escolhido pelos republicanos em Tampa, na Flórida. Uma semana depois, em Charlotte, na Carolina do Norte, os democratas optaram por Julian Castro, prefeito de San Antonio, no Texas, apelidado de o "Obama Latino". Em 2004, quando o então candidato democrata John Kerry seria nomeado na convenção democrata em Boston, o orador foi Barack Obama, um jovem senador do Estado de Illinois (o Legislativo estadual nos EUA é bicameral) - quatro anos depois, ele seria eleito presidente. Assim como Obama, Castro não conviveu com o pai e formou-se em Direito na Universidade Harvard. Aos 38 anos, ele foi o primeiro latino a fazer esse discurso na história da política americana. Por isso, analistas preveem para ele um futuro tão brilhante quanto o de Obama. Em sua grande noite, Castro atacou o republicano Mitt Romney, usando ironias e bom humor. Para a presidente do Partido Democrata, Debbie Wasserman Schultz, Castro é uma das figuras-chave e em ascensão da esquerda americana. Irmão gêmeo. A opinião é compartilhada por outros observadores próximos. "Daqui a dez anos, você dirá: 'Eu estive lá quando ele fez aquele discurso'", afirmou o coordenador da campanha de Obama, Jim Messina.A presença de Castro no palco foi introduzida por seu irmão gêmeo idêntico, Joaquín Castro, que deputado no Texas. Nas eleições de novembro, Joaquín concorre a uma vaga na Câmara dos Deputados, em Washington. Ambos seguem os mesmos passos, tanto nos estudos quanto na vida pública. Como relatou esta semana o jornal Washington Post, quando eram ainda estudantes universitários, os irmãos Castro se encontraram com Lionel Sosa, um conterrâneo de San Antonio que trabalhara no Partido Republicano local. "Eles vieram à minha casa pedir meu conselho. O dois foram uníssonos e disseram que queriam ser prefeito. Eu perguntei: 'Mas qual dos dois?' E um deles me respondeu: 'Não importa quem seja, um de nós será prefeito'", contou Sosa.Julian Castro rejeita o adjetivo de "Obama Latino". "Fico lisonjeado, mas não me coloco na pele dele", diz. A matriarca da família Castro é María Rosie, americana de origem mexicana e uma conhecida militante do grupo La Raza Unida, em favor dos direitos civis dos hispânicos. Ela criou os gêmeos com a ajuda de sua mãe mexicana e impediu que eles ficassem trancafiados nos guetos latinos de San Antonio e insistiu para que eles se adaptassem à sociedade americana. Julian fala japonês, mas não domina o espanhol - ao contrário do que muita gente pensa. Na convenção, no entanto, ele arriscou uma frase: "Que Dios los bendiga" (que Deus os abençoe), o que lhe rendeu acusações de tentar explorar sua origem hispânica ao passar a impressão de que fala a língua dos imigrantes.Seja como for, a escolha de Castro está relacionada à necessidade de ambos os partidos de apresentar, em nível nacional, líderes jovens e de atrair o interesse do eleitor hispânico ainda indeciso, sobretudo no Texas, Colorado, Nevada e Flórida. A comunidade latina é hoje a maior minoria dos EUA, com 16% da população, e representa dois terços dos habitantes do Texas. "Essas tendências devem transformar o Estado, que atualmente é republicano, em democrata nos próximos seis anos", afirmou Castro em seu discurso.Mesmo com um cenário mais latino para o Texas e com os holofotes da convenção sobre os irmãos Castro, ainda é incerto o caminho de ambos na política. O Texas não elege um governador ou senador democrata desde 1990. Após o discurso em Charlotte, o jornalista Piers Morgan, da CNN, fez uma referência a Fidel e brincou com a possibilidade de alguém chamado Castro chegar à presidência dos EUA. Julian riu e respondeu de bate-pronto: "Isto nunca vai acontecer."

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