
02 de março de 2012 | 03h02
Soando como quem cita um empoeirado manual da KGB ou um péssimo roteiro de cinema, Vladimir Putin alertou na quarta-feira que seus oponentes estariam preparados para assassinar um de seus pares com o objetivo de atribuir a ele a responsabilidade pelo crime.
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O primeiro-ministro russo também garantiu aos partidários reunidos aqui que, se for eleito presidente no domingo, todos os russos devem esperar uma maré constante de felicidade - pensões mais altas, uma idade fixa para a aposentadoria (60 anos para os homens, 55 para as mulheres) e uma mídia livre de interferência. Além disso, as emissoras estatais de TV devem se livrar dos comerciais.
O ceticismo foi a reação dominante na internet, que abriga boa parte da oposição a Putin, pessoas comuns que, desde dezembro, começaram a organizar manifestações por eleições justas e transparência no governo. "Estão à procura de uma vítima a ser sacrificada entre alguns nomes importantes", disse Putin, ex-agente da KGB, durante um encontro da Frente Popular Pan-Russa, grupo organizado para apoiá-lo. "Eles vão dar cabo dele, com o perdão da expressão, e então responsabilizar as autoridades pelo assassinato." Boris Nemtsov, adversário que Putin parece desprezar mais do que aos demais, devolveu imediatamente a alegação feita. De acordo com ele, caberia às autoridades evitar um ato tão inominável.
Aqui na Rússia, alguns bajuladores encontram maneiras de agradar a Putin mesmo quando ele faz comentários improvisados. Nemtsov, líder liberal dos primeiros dias da era pós-soviética, disse que estava levando a sério os comentários de Putin e recomendou à oposição que fizesse o mesmo.
"Se as autoridades fracassarem em evitar tal cenário acabarão se tornando cúmplices no grave crime em planejamento" disse Nemtsov. Na quarta-feira, o jornal Kommersant relatou que um homem acusado de ser o mandante do assassinato da jornalista Anna Politkovskaya tinha acusado Boris Berezovsky, outro arqui-inimigo de Putin que hoje vive exilado em Londres, de ter planejado a morte da repórter em parceria com o ex-líder checheno Akhmed Zakayev.
"Os comentários de Putin sugerindo um cataclismo se tornam cada vez mais ameaçadores conforme a eleição se aproxima, temperados com iniciativas para agradar aos eleitores. Na segunda-feira, o principal canal russo de TV informou a descoberta de um elaborado complô para assassinar Putin logo após a eleição. Na terça-feira, um governador muito impopular no extremo oriente foi demitido.
Na quarta-feira, Putin também acusou a oposição de fazer preparativos para fraudar as urnas na eleição de domingo com o objetivo de responsabilizá-lo. "Sabemos que há pessoas se preparando para usar técnicas que levem à confirmação de uma fraude eleitoral", disse ele. "Eles colocarão seus votos nas urnas e então farão acusações, por conta própria. Já percebemos isso e já tomamos conhecimento do que vai ocorrer." / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
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