Premiê da Etiópia dá 72 horas para que forças rebeldes se rendam no norte do país

Tropas federais planejam cercar capital da região comandada pela Frente Popular de Liberação de Tigré, ampliando a ofensiva militar inciada no começo do mês

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Por Redação
Atualização:

ADIS ABEBA — O governo da Etiópia deu um ultimato de 72 horas para que as forças rebeldes da região de Tigré, no norte do país, se rendam antes que o Exército inicie uma ofensiva contra a área, cenário de um violento conflito que se desenrola desde o começo do mês, deixando centenas de mortos e milhares de refugiados.

"Nós exigimos que vocês se rendam pacificamente em até 72 horas, reconhecendo que vocês estão em um ponto sem retorno", escreveu o premier Abiy Ahmed, no Twitter.

Membro das Forças Especiais de Amhara observaa fronteira com a Eritreia. Ao fundo, a bandeira imperial etíope. Foto: Eduardo Soteras/AFP

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Segundo um porta-voz militar, o plano é cercar a capital regional, Mek´lle, com tanques, talvez ampliando os bombardeios que já atingem a cidade de 500 mil habitantes e apontada como a base dos rebeldes. Em um alerta feito em uma emissora estatal, o coronel Dejene Tsegaye alertou que o cenário pode se tornar violento caso não haja sinais de rendição — algo que pode atingir até mesmo a população civil.

“Queremos mandar uma mensagem ao público em Mek'lle para que busquem abrigo contra os ataques de artilharia e se livrem da junta (rebelde)”, afirmou Tsegaye. “Depois disso, não haverá piedade.”

Apesar de algumas rendições entre as forças rebeldes, não há sinais de que abandonar o campo de batalha esteja nos planos imediatos.

"Cercar Mek'lle é o plano deles mas eles não conseguem fazê-lo. No front Sul, não conseguem avançar nem um centímetro há mais de uma semana. Estão mandando ondas, mas sem efeitos", disse o líder da Frente Popular de Liberação de Tigré, Debretsion Gebremichael, à Reuters.

Acusações mútuas

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O conflito na região de Tigré começou no dia 4 de novembro, depois que o governo federal lançou uma operação militar contra o que considera ter sido um ataque contra suas forças na cidade de Dansha, um evento que não foi confirmado de forma independente. 

Ao mesmo tempo, a Frente Popular de Liberação de Tigré acusa o premier Abiy de discriminar integrantes do grupo, que ocupava posições importantes em governos passados, e mesmo perseguir suas lideranças.

A crise se intensificou em setembro, quando a Frente realizou eleições regionais em Tigré mesmo diante da proibição imposta pelo governo federal, adotada por conta da covid-19. Cerca de 2,7 milhões de pessoas votaram, em um processo acompanhado por observadores internacionais.

Em resposta, o governo de Abiy se negou a reconhecer o resultado, chegando ao ponto de bloquear a ida de jornalistas estrangeiros à região, e o Parlamento aprovou um corte no financiamento a Tigré.

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Semanas depois, o conflito teve início, provocando uma onda de refugiados internos e elevando o risco de uma guerra civil de larga escala, que poderia envolver até mesmo a vizinha Eritreia — nos últimos dias, foguetes foram lançados contra a capital, Asmara, por rebeldes, que acusam o país de ajudar as forças do governo federal. Cerca de 30 mil pessoas fugiram rumo ao Sudão, um número que pode chegar a 200 mil em breve.

No poder desde 2018, Abiy é apontado como o responsável pela abertura da Etiópia e por ser o grande responsável por colocar fim a mais de duas décadas de conflito com a Eritreia, o que lhe rendeu o Nobel da Paz em 2019

Por outro lado, a iminente crise humanitária provocada pela guerra e as acusações de violações dos direitos humanos por parte de opositores recebem críticas mundo afora. Uma delas veio na semana passada, quando a comissão responsável pelo Nobel pediu que ele agisse para evitar a guerra civil. Na mesma linha, a ONU, União Europeia, União Africana, Estados Unidos e até o Papa já pediram o fim da violência e que negociações sejam abertas — pedidos ignorados por Abiy. /Reuters

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