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Premiê da Itália cai após divisão na esquerda

Depois de perder apoio do partido, Letta deixará cargo que ocupou por 9 meses

Por Andrei Netto , Correspondente e Paris - O Estado de S. Paulo
Atualização:

(Atualizada às 23h30)

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PARIS - Pressionado por uma crise política, o primeiro-ministro da Itália, Enrico Letta, anunciou na noite de quinta-feira, 13, sua demissão do cargo que ocupava havia apenas nove meses. A turbulência, desta vez, veio de dentro do Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, do qual o premiê demissionário era representante.

Na mira do secretário-geral do partido, Matteo Renzi, atual prefeito de Florença e provável sucessor do primeiro-ministro, Letta perdeu o apoio da legenda no Parlamento e deve ser substituído por seu rival interno até o fim da semana. O PD decidiu pela substituição de Letta por 136 votos a favor, 16 contra e 2 abstenções.

A justificativa da disputa dentro do PD foi acelerar as reformas propostas pelo governo, bloqueadas no Parlamento por falta de uma maioria estável. Em um episódio incomum mesmo em um país acostumado às crises políticas, Renzi intimou Letta a deixar seu posto ao anunciar que o PD lhe retiraria o apoio no Parlamento, derrubando o governo.

O gabinete do primeiro-ministro foi formado em abril, depois de mais de dois meses de impasse em razão do resultado das eleições de fevereiro. À época, a cena política italiana ficou dividida em três partes: o então chefe do PD, Pier Luigi Bersani, o líder do partido Povo da Liberdade e ex-premiê Silvio Berlusconi, e o Movimento 5 Estrelas, de Beppe Grillo.

Letta fez um acordo entre o PD e uma fração dissidente do partido de Berlusconi, o Novo Centro-Direita (NCD). Assim, conseguiu a maioria que precisava para governar, tendo como vice o ex-aliado de Berlusconi, Angelino Alfano.

Renzi, que perdera em dezembro de 2012 as prévias do PD para Bersani, tornou-se neste ano secretário-geral do partido. Desde então, manobrava para assumir o poder. Uma das negociações feitas por ele foi com Berlusconi, com quem pactuou os termos de uma reforma eleitoral diferente da enviada pelo premiê ao Parlamento.

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Na quarta-feira, na reunião do Comitê Executivo do PD, Letta, de 47 anos, desafiou seu adversário interno em público. "Se Matteo Renzi quer meu posto, que o declare."

Líderes do PD ainda tentaram intermediar um acordo, propondo que o primeiro-ministro renunciasse, abrisse caminho para Renzi e aceitasse o posto de ministro da Economia. Letta, porém, recusou a oferta. Na quinta-feira, Renzi, de 39 anos, divulgou nota na qual fez exatamente o que premiê o havia intimado a fazer: pediu sua cabeça. "A Itália não pode mais viver numa situação de incerteza e instabilidade. Estamos em um momento de virada", disse o prefeito de Florença, descartando se tratar de uma disputa de egos e de poder.

Letta já havia recebido um ultimato do presidente do maior sindicato patronal do país, a Confindustria, Giorgio Squinzi, que até então o apoiava, mas que pedia a aceleração das reformas. Além disso, o premiê vinha perdendo apoio interno de líderes históricos do partido. Nesta semana, Romano Prodi, ex-premiê, criticou o ritmo de crescimento da Itália.

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