Presença militar dos EUA deve dominar encontro

Tema divide Unasul entre moderados e bolivarianos, apoiados pelo Brasil

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

O acordo militar entre os EUA e a Colômbia sofrerá seu primeiro ataque coletivo amanhã, quando os líderes da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) estiverem reunidos em Quito, no Equador. A curta duração do encontro - de apenas uma hora e meia - evitará um choque intenso entre os países que não veem nenhum risco no acordo e o eixo bolivariano - mais o Brasil -, que consideram a presença americana na Colômbia uma séria ameaça à segurança da região. O embate, no entanto, tende a se estender nos bastidores da cúpula e, em seguida, na cerimônia de posse do presidente Rafael Correa, do Equador, para seu segundo mandato. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, que exigiu da Colômbia "garantias jurídicas" de que as ações americanas não atravessarão as fronteiras, vai propor que o tema seja discutido posteriormente no Conselho de Defesa da Unasul de forma ampla e detalhada, conforme informou o porta-voz do Palácio do Planalto, Marcelo Baunbach. Lula deverá ter o apoio de Hugo Chávez, da Venezuela, que mandou, na sexta-feira, um recado ao presidente Álvaro Uribe, da Colômbia. Chávez também quer ver o tema tratado no âmbito da Unasul. Reservadamente, em Quito, Lula vai apelar a Chávez para que abrande seu discurso beligerante contra a Colômbia e aposte em um debate franco e direto no Conselho. Nos últimos dias, Chávez alegou que a presença militar americana no país vizinho é uma ameaça e pode ser o "início de uma guerra na América do Sul". "O Brasil sempre faz o jogo da distensão", afirmou ao Estado um colaborador do presidente Lula, referindo-se aos propósitos de acalmar os ânimos em Quito. A receita de postergar o debate evitará que o conflito desgaste a ainda frágil Unasul. A alternativa proposta por Lula, entretanto, tem poucas chances de prosperar. CONSELHO Primeiro, porque o Equador assume amanhã a presidência da Unasul e, portanto, também do Conselho de Defesa, cujos membros nunca se reuniram para formalizar sua criação. Segundo, porque Quito e Bogotá cortaram relações diplomáticas desde o bombardeio colombiano a um acampamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em território equatoriano, em março de 2008. Por fim, porque Caracas congelou suas relações com Bogotá em julho como represália às acusações do governo colombiano de que a Venezuela teria repassado armas às Farc. Esses três fatos indicam que, se vier a destrinchar a questão das bases militares da Colômbia, o Conselho de Defesa terá de enveredar, obrigatoriamente, pelas suspeitas de que os governos Chávez e Correa dão apoio aos guerrilheiros das Farc. Recentemente, o próprio ministro da Defesa do Equador, Javier Ponce, reconheceu que esse ambiente "introduz ingredientes complexos e difíceis" para a atuação do Conselho. Uribe já antecipou que não vai comparecer ao encontro da Unasul, mas deverá enviar a Quito um representante. Ele estará respaldado pelas declarações do presidente dos EUA, Barack Obama, que na sexta-feira disse que o acordo de seu país com a Colômbia não prevê a instalação de bases militares americanas. RESPALDO Na semana passada, durante um giro pela América do Sul, Uribe explicou os termos do acordo e obteve os apoios discretos dos governos do Chile, Peru, Paraguai e Uruguai. A Argentina apresentou uma oposição branda, enquanto a Bolívia se opôs totalmente. Já o Brasil colocou sob suspeita os argumentos de Uribe e alinhou-se a Venezuela, Equador e Bolívia, críticos do acordo entre EUA e Colômbia.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.