O papa Francisco e o presidente Donald Trump discutiram nesta quarta-feira terrorismo e radicalização dos jovens num encontro no qual os dois líderes globais, de visões claramente diferentes de mundo, procuraram reduzir a brecha entre eles com um aperto de mão, uma audiência privada e a promessa mútua de trabalhar pela paz.
Durante outra reunião, com a participação de funcionários americanos e do Vaticano, o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado da Santa Sé, exortou Trump a não retirar os Estados Unidos do Acordo Climático de Paris.
Com o semblante alternando-se entre o sorridente e o sério, o papa deu boas-vindas ao presidente à sede de uma religião que tem 70 milhões de seguidores nos Estados Unidos. Na maior parte do tempo os dois se ativeram ao protocolo, evitando retomar em público a troca de farpas verificada durante a campanha presidencial de Trump, ou as veladas críticas do papa ao presidente como símbolo de um nacionalismo perigosamente revigorado.
Mas os presentes que o papa deu ao convidado parecem conter mensagens. Um dos presentes foi um exemplar do influente ensaio do papa sobre a importância de se salvar o meio ambiente – uma resposta o ceticismo de Trump sobre mudanças climáticas.
Francisco também deu ao presidente um medalhão com a imagem de uma oliveira – “um símbolo da paz”, explicou. “Paz é bom”, disse Trump. Ao que Francisco replicou: “Temos a esperança de que o senhor possa se tornar uma oliveira para fazer a paz”. Ao se despedir, Trump disse ao papa: “Não me esquecerei do que o senhor disse”.
Ficou no Vaticano uma sensação de que Trump estava mais propenso ao diálogo do que faziam crer sua dura linguagem de campanha e as ásperas palavras com que então que se referiu a Francisco.
“Trump mais late do que morde”, disse um funcionário de alto escalão do Vaticano, que pediu anonimato por não estar autorizado a falar sobre o encontro entre o papa e o presidente americano.
Para Trump, que antes estivera na Arábia Saudita e Israel, a visita ao Vaticano fechou um roteiro às terras ancestrais das três maiores religiões monoteístas. Para Francisco, que fez ele mesmo uma histórica visita ao Egito no mês passado, foi a oportunidade de receber um segundo presidente americano – o presidente Barack Obama o havia visitado em 2014.
Encontro físico à parte, poucos esperavam um encontro de mentes. O papa Francisco e Trump têm pontos de vista diametralmente opostos sobre temas como imigração, mudança climática e venda de armas. Embora ambos parecessem determinados a não deixar que a política estragasse a ocasião, suas conturbadas histórias pessoais e estilos divergentes contribuíram para um ambiente às vezes mais carregado.
Após posarem para uma foto – “protocolo”, murmurou o papa –, Trump sentou-se do lado oposto a Francisco numa mesa de madeira. Funcionários do Vaticano fizeram os repórteres deixar a sala e os dois homens se reuniram por meia hora (a reunião do papa com Obama durou mais 20 minutos).
Falando depois a jornalistas, Trump descreveu o encontro como “fantástico”. Mais tarde, no Twitter, escreveu: “Deixei o Vaticano mais determinado do que nunca a buscar a PAZ para o mundo”.
Compromissos. O Vaticano, numa declaração, informou que os dois discutiram sobre o Oriente Médio e a proteção às comunidades cristãs, assim como “o compromisso conjunto” em favor da vida, da liberdade religiosa e de consciência e o trabalho da Igreja Católica pelos imigrantes.
Imigração vem sendo um ponto sensível entre o primeiro papa sul-americano da história e um presidente que chegou ao poder prometendo erguer um muro para manter imigrantes mexicanos fora dos Estados Unidos. Entretanto, nos dias que antecederam o encontro pessoas próximas ao papa disseram que ele não repreenderia Trump, preferindo compartilhar seus valores e construir um diálogo que pudesse levar Trump a reconsiderar suas políticas – quando não, a uma conversão.
Com seus presentes, o papa pareceu ansioso por transmitir uma lição. Ele deu também ao presidente uma cópia de sua mais recente mensagem pelo Dia Mundial da Paz (“assinei para o senhor”), além de três outros textos seus: sobre a família, a alegria do Evangelho e, mais eloquente para um visitante que chamou as mudanças climáticas de “fraude”, a encíclica Laudato Si. Escrita em 2015, é a primeira encíclica papal a tratar exclusivamente do meio ambiente.
“Vou ler tudo”, disse Trump, que deu ao papa uma coleção de livros de autoria de Martin Luther King Jr. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ