CLAREMONT, EUA - Uma igreja do sul da Califórnia acendeu as luzes em sua cena do nascimento do menino Jesus ao ar livre no sábado à noite para revelar Jesus, Maria e José como detidos na fronteira, com cada um deles isolado em sua própria jaula de arame com cerca de arame farpado.
A exibição do presépio da igreja metodista Claremont United, uma congregação suburbana a leste de Los Angeles, despertou elogios e críticas por representar a história bíblica da família de Jesus que foge para o Egito no contexto de políticas controversas de imigração dos EUA.
O presépio tem como objetivo destacar a situação dos migrantes e refugiados, uma causa antiga para esta congregação de 300 membros, disse a reverenda Karen Clark Ristine, pastora da igreja.
"Nossa intenção é focar nos requerentes de asilo e nas maneiras como eles estão sendo recebidos e tratados e sugerir que pode haver uma maneira mais compassiva de mostrar o amor de Deus", disse Ristine. "Penso que, como cristãos, temos a responsabilidade de proclamar uma narrativa que pode ser contrária ao que o mundo pensa."
O presépio de Claremont, planejado desde julho, é um dos muitos "presépios de protesto" já montados no país para atrair atenção nos últimos anos. Alguns defenderam o controle de armas, a igualdade entre os casamentos para casais de mesmo sexo e o fim de guerras - um dos primeiros presépios de protesto ocorreu no Central Park de Nova York em 1969, como uma declaração contra a Guerra do Vietnã.
Interpretações bíblicas sugerem que, após o nascimento de Jesus, seus pais o levaram ao Egito, temendo que o rei Herodes o matasse.
Ristine, que ingressou na congregação em julho, postou fotos do presépio em sua página pessoal do Facebook e ficou surpresa com a resposta - mais de 15 mil compartilhamentos e 4 mil comentários em um dia.
A maioria tem sido favorável e gerou uma discussão on-line, segundo disse ela. "Obrigada por viver a fé e nos lembrar a história verdadeira - e a mensagem - do Natal", escreveu Shelby Edwards na página do Facebook de Ristine, e um pastor da Austrália escreveu: "Muito bem, Claremont".
Mas outros ficaram ofendidos com a cena não tradicional. "Estou horrorizado para dizer o mínimo sobre o seu presépio em sua igreja", Edwin Musto, um metodista, escreveu na página de Facebook da igreja. "É desprezível que você possa trazer política para a nossa igreja!"
Ristine rejeitou a noção de presépio como uma declaração política."Um presépio é o equivalente teológico da arte pública, e o papel da arte pública sempre foi o de conscientizar", disse ela. "Jesus nos ensinou bondade, misericórdia e a recepção radical de todas as pessoas."
Alguns estudiosos dizem que o primeiro presépio, criado por São Francisco de Assis no século 13, era em si uma declaração política, porque Francisco esperava que chamasse a atenção para o sofrimento dos pobres.
Em uma entrevista à revista americana, Felicity Harley-McGowan, professora da Universidade de Yale, disse que os presépios são um meio de "articular preocupações contemporâneas" há séculos.
No Natal passado, as igrejas de Indiana, Massachusetts e Oklahoma realizaram presépios com todas ou algumas figuras em jaulas, levando à hashtag #holyfamilyseparated da mídia social.
Os líderes de cada uma das igrejas descreveram suas cenas como protestos à política de imigração dos EUA sob o governo Trump, que detêm milhares de famílias na fronteira EUA-México desde 2017.
Cerca de 5,4 mil crianças foram separadas de suas famílias, de acordo com uma contagem recente da União Americana das Liberdades Civis.
Em Claremont, o presépio ao ar livre, que fica próximo da Old Route 66, uma estrada percorrida por migrantes do Dust Bowl durante a Grande Depressão, é combinada com um segundo presépio da igreja. Lá, os mesmos personagens da sagrada família, livres de suas jaulas ao ar livre, aglomeram-se ao redor de um berço. "Você os vê reunidos porque acreditamos que estão no reino do amor de Deus", disse Ristine./W. POST