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Brasil ensaia diálogo com Argentina ao ver Fernández mais distante de Cristina

Segundo a assessoria de imprensa da Presidência da Argentina, 'Fernández e Bolsonaro buscarão fortalecer as múltiplas agendas comuns que compõem a relação bilateral em busca de uma maior integração'

Por Tania Monteiro e BRASÍLIA
Atualização:

Os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e da Argentina, Alberto Fernández, participarão de uma videoconferência na manhã desta segunda-feira, 30. Será a primeira a primeira reunião oficial dos dois presidentes, mesmo que virtual, desde a eleição do argentino, em outubro do ano passado.

O gesto tem sido considerado por diplomatas brasileiros como um primeiro passo para a reaproximação entre os dois países, tradicionais parceiros comerciais, após Bolsonaro manter uma relação conflituosa com o vizinho.

Cristina Kirchner fala na Casa Rosada, após vitória de Alberto Fernández, em 2019 Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino

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Candidato ligado ao “kirchnerismo”, Fernández visitou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em plena campanha pela Casa Rosada. O episódio foi considerado inaceitável por Bolsonaro, que desde então acirrou as críticas ao argentino. O brasileiro chegou a lamentar o resultado da eleição e se recusou a cumprimentar o colega. 

Desde então, não houve contatos oficiais. De acordo com diplomatas ouvidos pelo Estadão, no entanto, sinais de afastamento entre Fernández e sua vice-presidente, Cristina Kirchner, abriram espaço para uma reaproximação neste momento.

Com a pandemia e a consequente desaceleração econômica no país, que causou a maior saída de empresas multinacionais da Argentina desde a crise de 2002, Fernández passou a moderar seu discurso e tem se afastado da cartilha de Cristina, para tentar salvar a economia. 

Segundo a assessoria de imprensa da presidência da Argentina, durante a reunião “Fernández e Bolsonaro buscarão continuar fortalecendo as múltiplas agendas comuns que compõem a relação bilateral em busca de uma maior integração”.

O comunicado também afirma que “o diálogo é fruto do trabalho sustentado de coordenação política que os dois países vêm desenvolvendo nos últimos meses e que resultou no crescimento do comércio bilateral, a ponto de o Brasil mais uma vez se posicionar como o principal parceiro comercial da Argentina”. De acordo com fontes no governo argentino, a iniciativa de estabelecer a relação partiu da Casa Rosada.

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Presidente da Argentina, Alberto Fernández, fará reunião com Bolsonaro Foto: AFP

Oficialmente, o motivo da videoconferência é o 35.º aniversário do encontro dos ex-presidentes Raúl Alfonsín e José Sarney, em Foz de Iguaçu. A reunião ocorreu em 30 de novembro de 1985, e ficou marcada como o dia da amizade Argentino-Brasileira. Mas o primeiro bate-papo virtual entre Bolsonaro e Fernández significa mais do que isso.

Tanto Bolsonaro quanto Fernández estarão em suas residências oficiais, Palácio da Alvorada e o de Olivos, respectivamente, durante a videoconferência, prevista para as 11h30. No ano passado, essa comemoração não foi realizada com participação dos presidentes. Na avaliação de diplomatas brasileiros, o que virá daqui para a frente dependerá de como for a conversa amanhã. Um deles lembrou que a relação entre os dois países sempre foi de idas e vindas, “dramática, como um tango”.

A relação entre Bolsonaro e Fernández começou com troca de farpas e críticas de ambos os lados. Em fevereiro, o novo embaixador da Argentina no Brasil, o empresário e ex-candidato a presidente Daniel Scioli, tentou contornar a situação. Em entrevista ao Estadão, Scioli disse que estava no Brasil para “facilitar, unir, procurar pontos de convergência e acordos que resultem em influência positiva na agenda comum que temos”.

Scioli afirmou na ocasião que iria “prevalecer a responsabilidade e os interesses comuns”, e que era preciso “respeitar a vontade do povo. O embaixador e o chanceler argentino, Felipe Solá, começaram a promover uma tentativa de encontro entre os dois presidentes. 

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Em março, Fernández e Bolsonaro iriam se encontrar em Montevidéu, no Uruguai, para a posse do presidente uruguaio Luis Lacalle Pou. Às vésperas do evento, Fernández adiou o encontro. “Lamentavelmente não poderei viajar este dia, é o discurso na abertura das sessões ordinárias (do Congresso Nacional). Se não posso viajar neste dia, irei no dia seguinte”, disse Fernández.

Um primeiro encontro entre os dois presidentes depois das trocas de farpas que começaram durante a campanha de Fernández, no ano passado, foi proposto por Bolsonaro a Felipe Solá, durante reunião em Brasília. A ideia de Bolsonaro era a de aproveitar que ambos estariam em Montevidéu para a posse do presidente eleito do Uruguai.

Desde então, Bolsonaro e Fernández trocaram farpas em algumas ocasiões. Em março, Fernández disse que “as declarações e ações de Bolsonaro levam a pensar que o país pode entrar numa mesma espiral que a Itália”, comparando a postura do presidente brasileiro em relação à pandemia com a situação na Itália. 

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Em setembro, Fernández  disse que a família do presidente brasileiro está muito “preocupada comigo e com a Argentina”.

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