Presidente afegão manteve conversas secretas com o Taleban, diz jornal

De acordo com o ‘New York Times’, Hamid Karzai tentou negociar acordo de paz com grupo integrista sem que os americanos soubessem

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Por Cláudia Trevisan , Correspondente e Washington - O Estado de S. Paulo
Atualização:

(Atualizada às 22h45)

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WASHINGTON - O presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, realizou nos últimos três meses negociações secretas com o Taleban, em uma tentativa de chegar a um acordo de paz com o grupo islâmico, segundo reportagem publicada na terça-feira, 4, pelo New York Times, que cita fontes anônimas dos governos afegão e americano.

Segundo o jornal, as conversas fracassaram, mas sua existência ajudaria a explicar o comportamento hostil que Karzai adotou desde o fim do ano passado em relação aos EUA. Em outubro, os dois países anunciaram que haviam chegado a um acordo para a permanência das tropas americanas em solo afegão após 2014, quando oficialmente termina a guerra no país. Contrariando a expectativa de Washington, Karzai declarou, no dia 21 de novembro, que só assinará o documento depois das eleições presidenciais de abril, nas quais ele não poderá se candidatar à reeleição.

Os americanos afirmam que a demora na ratificação do acordo pode levar à retirada de todas as tropas que estão no Afeganistão no fim de 2014, já que não haveria tempo hábil para planejar as operações futuras. Sem apoio e treinamento dos soldados estrangeiros, Washington teme uma escalada da guerra civil e o avanço dos extremistas islâmicos, a exemplo do que ocorreu no Iraque.

De acordo com o Departamento de Defesa, cerca de 34 mil soldados americanos estão no Afeganistão. O governo dos EUA gostaria que cerca de 10 mil soldados permanecessem no país depois de 2014. Eles deixariam de ter uma atuação de combate para trabalhar no treinamento de forças afegãs. Em 2013, o Pentágono disse que precisaria de pelo menos um ano para planejar o futuro de suas operações no país.

O fracasso das negociações com o Taleban ficou evidente no recente aumento da violência no Afeganistão. Janeiro foi o mês com maior número de atentados desde 2008, entre os quais um ataque a um restaurante frequentado por estrangeiros que deixou 16 mortos, entre os quais quatro funcionários da ONU e o represente do FMI no país.

O Taleban, que comandou o país de 1996 a 2001, é contra as eleições e tenta inviabilizar sua realização por meio da violência. O presidente dos EUA, Barack Obama, se reuniu hoje com o comandante das tropas americanas no Afeganistão, general Joseph Dunford, o secretário de Defesa, Chuck Hagel, e o chefe das Forças Armadas, Martin Dempsey.

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Opções. Segundo o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, o objetivo do encontro era avaliar a situação do Afeganistão, tendo em vista o cenário pós-2014. No entanto, ele ressaltou que uma decisão sobre a permanência ou retirada das tropas não seria tomada na reunião.

Antes do encontro, o senador democrata Carl Levin, chefe do Comitê de Serviços Armados, afirmou que os integrantes do governo estão avaliando "todas as opções" em relação ao Afeganistão.

De acordo com a agência de notícias Bloomberg, Levin e outros senadores estão convencidos de que Karzai não assinará o acordo com os EUA e deixará a decisão sobre o assunto para seu sucessor, que será escolhido no dia 5 de abril. Eles defenderam que Washington espere a eleição do novo presidente afegão para planejar a situação das tropas depois de 2014.

Entretanto, o Executivo tem repetido que não é possível esperar. No dia 6 de janeiro, o porta-voz da Casa Branca declarou que o acordo de segurança deveria ser assinado "em semanas" e não "em meses", como deseja Karzai.  

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