O esforço de guerra dos EUA e de seus aliados da Otan no Afeganistão sofreu ontem dois reveses importantes. Primeiro, o presidente Hamid Karzai, revoltado com o massacre de 16 civis por um sargento americano, no domingo, defendeu a retirada das tropas ocidentais de zonas rurais afegãs. Horas depois, o Taleban anunciou o rompimento das negociações com os EUA, que engatinhavam desde janeiro.As medidas representam um duro golpe na estratégia americana de "pacificar" o interior do Afeganistão - onde, segundo o Pentágono, estão os principais focos insurgentes - e, ao mesmo tempo, lançar um diálogo capaz de trazer o Taleban para o jogo político-partidário afegão. A Casa Branca diz que o processo de retirada gradual das tropas americanas terminará em 2014, quando será preciso haver um governo em Cabul capaz de impor, sozinho, sua autoridade sobre todo o território.Por meio de nota, o gabinete de Karzai afirmou que o presidente afegão solicitou ao secretário de Defesa dos EUA, Leon Panetta, "que todas as tropas internacionais deixem os vilarejos e permaneçam em suas bases". Panetta chegou anteontem ao Afeganistão e foi alvo de um atentado frustrado, após um intérprete afegão roubar um carro na base da Otan onde o avião do secretário aterrissaria.Reconciliação. Nos bastidores, autoridades americanas afirmaram que o líder afegão não pediu a Panetta uma retirada imediata da zona rural. Uma fonte disse à Associated Press que há dúvidas sobre se os EUA sairão dessas áreas mesmo no fim de 2013, conforme prevê o plano do presidente Barack Obama. O compromisso com a data foi reforçado na quarta-feira num encontro em Washington entre Obama e o premiê britânico, David Cameron.A publicação da nota seria uma forma de Karzai tentar aplacar a revolta entre afegãos diante do massacre de 16 civis, incluindo 9 crianças, por um sargento até agora não identificado publicamente.Um dia depois do massacre, Karzai exigira que o americano fosse submetido a um julgamento público pela Justiça afegã. Em Washington, o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, disse que, apesar do anúncio do Taleban de que as negociações estão suspensas, os EUA continuam "comprometidos com o processo de reconciliação". Zabiullah Mujahid, porta-voz do grupo islâmico, acusou Washington de não cumprir promessas, fazer novas exigências e disseminar informações falsas sobre um suposto diálogo multilateral.Segundo Mujahid, havia apenas dois pontos em debate: a abertura de um escritório do Taleban no Catar e um acordo para troca de prisioneiros - incluindo detentos que estão na base de Guantánamo. Ambas as iniciativas estão agora suspensas, disse o porta-voz. / AP e NYT