Presidente ameaça até cervejaria

A Polar, maior empresa privada do país, entra na mira do governo

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Por Ruth Costas e CARACAS
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Mesmo entre os simpatizantes de Hugo Chávez não é difícil encontrar alguém indignado com as ameaças de expropriar a fabricante de cerveja e alimentos Polar, a maior empresa privada do país. "A Polar produz boa parte dos alimentos que consumimos desde a infância", disse Denis Guedes, de 35 anos, funcionário de um sindicato. "Concordo com o que Chávez vem fazendo para obrigar as empresas a baixar seus preços, mas expropriar a Polar é ir longe demais." As ameaças foram feitas no início do mês, depois que a empresa anunciou que tomaria medidas legais contra a ocupação militar de uma de suas beneficiadoras de arroz. "Não hesitaria em expropriar todas as fábricas da Polar e ainda pagaria com bônus - não pensem que lhes daríamos dinheiro", disse Chávez. Fundada nos anos 40, a Polar tem mais de 30 mil funcionários e 17 fábricas e produz uma imensa variedade de produtos, incluindo a cerveja mais consumida do país. Metade dos venezuelanos vê a Polar como a empresa de maior prestígio na Venezuela e 97% gostam de seus produtos. "A Polar é o símbolo da Venezuela sem petroestado", escreveu Juan Carlos Sosa Aspúrua, professor de Desenvolvimento e Política Petrolífera na Universidade Monte Ávila, no jornal El Universal, de Caracas. MANOBRA ARRISCADA Para o economista José Guerra, da Universidade Central da Venezuela, expropriar a empresa seria um sinal de que Chávez está disposto a superar limites importantes rumo a seu projeto socialista. "O presidente pode ter levantado a possibilidade de expropriação apenas para sentir qual seria a reação da população, mas já aprendemos a não duvidar de suas ameaças", disse Guerra. Com uma fortuna de US$ 5 bilhões, o presidente da Polar, Lorenzo Mendoza, é o símbolo de uma classe que Chávez quer destruir. "Empresas em posição de domínio, oligopólios e monopólios colocam o Estado em uma situação de vulnerabilidade", afirmou Jaua.

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