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Presidente bengalês revoga eleições para evitar guerra civil

Após a primeira noite de toque de recolher, a população de Daca se mostrou aliviada após medida do presidente de Bangladesh, Iajuddin Ahmed

Por Agencia Estado
Atualização:

Após a primeira noite de toque de recolher, a população de Daca se mostrou aliviada nesta sexta-feira após o presidente de Bangladesh, Iajuddin Ahmed, recorrer para revogação eleições que poderiam levar o país a uma guerra civil. Ao declarar o estado de emergência na quinta-feira, Ahmed deu um prazo de 120 dias, permitidos pela Constituição para manter a medida sem que o Parlamento se pronuncie, para que os dois grandes rivais da cena política cheguem a um consenso para salvar a democracia, restaurada há 16 anos. Apesar da clara presença de soldados nas ruas depois do desdobramento de 60 mil homens por todo o país e da suspensão das garantias constitucionais, o humor da população "mudou radicalmente, de depressivo a esperançoso, até mesmo feliz", disse o chefe da seção política da Comissão Européia em Daca, Charles Whiteley. Whiteley afirmou por telefone que Ahmed teve que escolher "uma má solução para evitar outra pior", que teria sido a realização de eleições boicotadas pela oposição, claramente disposta a tomar as ruas para fazer ouvir suas reivindicações por reformas eleitorais. Embora o estado de emergência inclua uma proibição total das manifestações de protesto e greves, realizadas freqüentemente pela Liga Awami nos últimos meses, e nas quais mais de 30 pessoas morreram, Ahmed satisfez também as principais exigências da aliança opositora, informou hoje um de seus porta-vozes. Conforme a Liga Awami pedia, o presidente renunciou a seu posto como chefe interino do governo provisório encarregado de organizar o pleito, que, segundo ele, será "reconstituído" em um ou dois dias e se encarregará de realizar eleições "livres, justas e neutras" no prazo "mais curto possível". Ahmed também pediu uma nova revisão do censo eleitoral, de 93 milhões de pessoas, que em sua última correção, realizada em dezembro, acrescentou 11 milhões de nomes e retirou outros tantos, por duplicação ou erro. Agora, "veremos se os dois grandes blocos se dispõem a trabalhar juntos" por uma solução duradoura, disse Whiteley, que acrescentou que a Comissão Européia adotará uma decisão de acordo com o desenrolar da situação, após suspender sua missão de observação das eleições e ameaçar romper suas relações comerciais com Bangladesh. Outra fonte diplomática consultada pela disse que, apesar de Ahmed ter optado por uma solução rápida, não foi um passo necessariamente "insensato", mas "prático", e manifestou sua esperança de solução de "uma situação que era insustentável". Em seu discurso da noite de quinta-feira à nação, Ahmed recriminou os blocos políticos por seu comportamento, que levou o país a um estado de "falta de paz, indisciplina e intolerância". "A nação inteira se viu relegada a um abismo de preocupação, instabilidade e incerteza", disse o presidente, que esteve submetido a fortes pressões internacionais para evitar a realização de eleições não representativas, mesmo já tendo esgotado todas as possibilidades permitidas pela Constituição. Resta saber agora se os dois grandes rivais da cena política bengalesa, o líder da Liga, Sheikh Hasina, e a do Partido Nacionalista de Bangladesh, Khaleda Zia, são capazes de superar sua animosidade pessoal e aproveitar o adiamento vigiado anunciado por Ahmed, com o apoio do Exército. O jornal The Daily Star lembrou hoje o risco de retrocesso à "era autocrática do general Mohammad Ershad", último governante a impor um estado de exceção no país, em 1990, e, apesar de não ter criticado a medida exigiu a Ahmed que suspenda a censura imposta. "Os amigos da democracia nunca amordaçam a imprensa, só os autocratas o fazem", afirmou o diário em editorial.

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