Diante do que classificou como supostas intenções separatistas dos dirigentes dos departamentos (estados) do oriente do país, o presidente da Bolívia, Evo Morales, convocou nesta segunda-feira as Forças Armadas para "defender a unidade da nação". A declaração, feita durante uma cerimônia institucional no Colégio Militar do Exército, vem num momento de crescentes tensões entre governo e oposição no país vizinho. Políticos ligados ao partido de Evo, o Movimento ao Socialismo (MAS), adiantaram que o governo não descarta a possibilidade de realizar um cerco à Santa Cruz. No evento desta segunda-feira, o presidente reivindicou que o Exército não permita a divisão, segundo ele promovida pelos dirigentes opositores dos estados de Santa Cruz e outras regiões no leste e sul do país. "Forças Armadas que não defendem a pátria, a nação, não têm razão de serem Forças Armadas", declarou. A reação da oposição foi imediata: o presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz, Germán Antelo, acusou o mandatário de mentir ao dizer que sua frente promove o separatismo. "Absolutamente, nunca dissemos isso, sempre falamos de maneira clara e ganhamos (um referendo) para poder conquistar maior autonomia", disse, ao assinalar que sua luta continuará. O líder oposicionista também criticou a insistência de Evo em aprovar a nova Carta Magna do país por maioria simples, e não com o voto de dois terços dos constituintes, como mandava o ato convocatório na nova Assembléia. "Nosso país" "A Bolívia é o nosso país", indicou Antela à rede de televisão Unitel. Na véspera, ele e os governadores e dirigentes dos departamentos (estados) de Beni, Pando e Tarija haviam formado a "Junta Nacional Autônoma". A primeira medida do órgão será organizar, na próxima sexta-feira, uma assembléia popular deliberativa nos quatro departamentos. Com a medida, as populações locais poderiam ter a autonomia de fato, apesar de Evo ter virtualmente desconsiderado o resultado do referendo de julho, quando a reivindicação por maior autonomia ganhou nesses estados. As discussões sobre a autonomia haviam sido relegadas a segundo plano. Até agora, o clima de tensão entre a oposição e a situação tinha sido deflagrado pela decisão do oficialismo - que recebeu uma ordem de Evo para fazê-lo - em aprovar a nova Constituição por maioria de 50% mais um voto. A oposição quer que Carta seja aprovada por dois terços dos constituintes. Depois que Evo rechaçou a possibilidade de instruir seu partido a anular a regra, o movimento cívico e os governadores dos estados do leste e sul do país passaram a exigir o reconhecimento de sua maior autonomia. Cerco a Santa Cruz No último final de semana, Evo enviou ao menos 280 militares à Santa Cruz. Após a medida, o presidente descartou um pré-acordo que havia estabelecido com a oposição, a partir do qual havia prometido revisar as normas de aprovação da Constituinte. A disponibilidade para o diálogo havia surgido diante da pressão exercida por cerca de dois mil oposicionista em greve de fome há semanas. O presidente do MAS e líder de cultivadores de folha de coca, Julio Salazar, disse a jornalistas ao fim de uma reunião com Evo e com o vice-presidente Alvaro García que um "cerco a Santa Cruz não está descartado". Já o presidente do Senado, Santos Ramírez, adiantou que uma "estratégia" nessa linha será definida.