O presidente da Argélia e candidato à reeleição, Abdelaziz Bouteflika, conseguiu a maior vitória de seus 10 anos à frente do país, obtendo arrasadores 90,24% dos votos, anunciou nesta sexta-feira, 10, o ministro do Interior argelino, Yazid Zerhouni, enquanto os adversários denunciaram "fraudes e manipulações".
A participação eleitoral chegou a 74,54% de todos os convocados às urnas, a maior dos três pleitos presidenciais realizados desde 1999. Naquele ano, Bouteflika ganhou com 73,79% dos votos, após a desistência em massa do resto dos candidatos. Nas eleições de 2004, o presidente enfrentou cinco candidatos e mesmo assim conseguiu um segundo mandato apoiado por 85% dos eleitores.
Zerhouni anunciou que Bouteflika obteve 12.911.705 dos votos dos mais de 20,5 milhões de argelinos habilitados a votar. O ministro afirmou que os argelinos votaram "com toda liberdade" e elegeram quem consideram como o mais apropriado "para defender melhor seus interesses". "Estas eleições são uma vitória da nação, da vontade dos argelinos, e demonstram um progresso incontestável em matéria de liberdade de expressão", assegurou Zerhouni.
A segunda posição no pleito foi para a secretária-geral do Partido dos Trabalhadores argelino (PT), Luisa Hanoun, a única mulher à frente de uma legenda na Argélia, com 4,22% dos votos. O presidente da Frente Nacional Argelina (FNA), Moussa Touati, ficou com 2,31% dos votos e o candidato do partido reformista muçulmano El Islah, Djahid Younsi, conseguiu 1,37%. Os outros candidatos tiveram menos de 1% de apoio eleitoral, segundo os dados oficiais, que registraram 1.042.727 votos nulos, cerca de 5% do total.
Todos os adversários de Bouteflika denunciaram "fraudes e manipulações" durante a votação em várias regiões do país, assim como dois dos principais partidos de oposição, a Frente de Forças Socialistas (FFS) e o Agrupamento para a Cultura e a Democracia (RCD). Touati estimou que a participação eleitoral atingiu apenas 20% e Hanoun assegurou que houve "excessos desde o começo das votações".
O candidato islâmico disse que seus representantes identificaram irregularidades em pelo menos três províncias do país e que "houve a ordem de acrescentar dezenas de cédulas a favor de Bouteflika nas urnas". Já Ali Fawzi Rebaine, candidato do partido Ahd 54, afirmou que muitas urnas "já estavam cheias antes do começo das votações". O FFS e o RCD foram mais duros em suas críticas e denunciaram uma "fraude maciça e generalizada". Os dois partidos incentivaram a abstenção eleitoral. O FFS assegurou que "uma ordem foi dada para encher as urnas e manipular os números" e falou de "uma situação jamais vivida, inclusive em tempos coloniais".
Perguntado sobre estas acusações na entrevista coletiva na qual divulgou os resultados, Zerhouni disse que "ninguém informou sobre fatos precisos e concretos" e pediu para que as anomalias sejam denunciadas na Comissão Eleitoral. O ministro disse que, mesmo que "algum caso" tenha ocorrido, "seria mínimo e não teria influência nos resultados definitivos" e falou que a oposição de "dizer muitas coisas que dificilmente poderá provar".
Os resultados finais das eleições devem ser oficializados pelo Conselho Constitucional após a análise dos recursos que poderão ser apresentados pelos candidatos presidenciais. Nesta sexta, foi divulgada a notícia de que dois agentes morreram em um atentado a bomba e em um ataque terrorista durante o dia de eleições eleitoral na região da Cabília e na província de Medeia, ao sul de Argel, segundo informou a imprensa argelina.