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Presidente da Itália pede 'realismo' e envia sinal contra governo de minoria

Crise. Incerteza aumenta quanto à possibilidade de formação de gabinete em Roma três dias antes de líder do Partido Democrático apresentar sua plataforma para conduzir o país sem maioria no Parlamento; eleitos de Beppe Grillo fazem 'conclave' na capital

Por ANDREI NETTO e ROMA
Atualização:

O presidente da Itália, Giorgio Napolitano, aumentou ontem a incerteza política que paira sobre o país ao enviar uma mensagem ao líder de centro-esquerda Pier Luigi Bersani na qual insinua a intenção de recusar um eventual governo de minoria parlamentar na Itália. O chefe de Estado já afirmou preferir que um novo primeiro-ministro tecnocrata suceda ao atual, Mario Monti, caso as três maiores forças políticas da Itália não cheguem a um acordo para formar um governo de coalizão. A iniciativa de Napolitano foi tomada na noite de sábado e continuou repercutindo ontem. O presidente, cuja autoridade se limita a mediar a escolha de um primeiro-ministro, retornou à capital depois de uma viagem a Berlim, Alemanha. Ao chegar em Roma, o chefe de Estado disse ter interpretado melhor o impasse político na Itália, aberto pelas eleições parlamentares dos dias 24 e 25. Na votação, o eleitorado dividiu-se entre o ex-comunista Bersani, do Partido Democrático (PD), Silvio Berlusconi, do Povo da Liberdade (PDL, centro-direita), e Beppe Grillo, do Movimento 5 Estrelas (M5S, de linha política indefinida), todos com entre 25% e 31% dos votos."Eu recomendaria a qualquer entidade política o realismo e o sentimento de responsabilidade nestes dias dedicados a reflexões", afirmou Napolitano. "Todos nós temos um dever: proteger o interesse público e a imagem internacional do país, evitando determinações categóricas prematuras."A mensagem foi interpretada como um recado direto a Bersani e a Grillo. Isso porque o social-democrata anunciou na sexta-feira sua recusa em formar uma aliança com o PDL, de Berlusconi. Como Grillo rejeita uma aliança com o PD, Bersani disse preferir se lançar à aventura de um governo com maioria na Câmara dos Deputados, mas de minoria no Senado. Se isso ocorrer, o gabinete ficará sujeito a um voto de desconfiança dos senadores a qualquer momento de sua gestão. "A ideia de uma grande coalizão não existe e não existirá jamais", afirmou na sexta-feira Bersani, em entrevista ao jornal La Repubblica. Em lugar de uma aliança, o social-democrata prometeu apresentar na quarta-feira um programa de governo fundamentado em "sete ou oito" reformas, que serão encaminhadas ao Parlamento a partir do dia 15, quando deputados e senadores eleitos assumem seus postos.Para o cientista político Luigi Buononato, professor emérito da Universidade de Turim, essa estratégia é muito arriscada, já que o M5S, dono de cerca de 25% dos votos, não aceita formar uma coalizão com nenhum dos outros partidos. "Não é uma crise política, é quase uma morte da política na Itália", diz o especialista. "A única esperança é ter um governo para fazer a reforma eleitoral. Depois, acaba o governo, porque não é um país sério", acrescentou.Conclave. Cada vez mais pressionados a aceitar uma aliança, os candidatos eleitos do M5S, de Grillo, reuniram-se ontem "em conclave" em Roma - uma alusão bem-humorada ao encontro de cardeais que definirá o futuro papa no Vaticano. Os 163 eleitos do M5S - 109 deputados e 54 senadores - foram chamados a comparecer à Câmara de Deputados, no centro de Roma, para a primeira reunião de bancada. Por decisão do movimento, os parlamentares não explicaram à imprensa os objetivos do encontro - os membros do M5S evitam TVs, rádios e jornais da Itália, que julgam responsáveis em parte pela bipartidarização do país nos últimos 30 anos. Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, Gianroberto Casaleggio, cofundador do Movimento 5 Estrelas e braço direito de Grillo, assegurou que o movimento vai se manter fiel à sua independência, sem celebrar alianças com Bersani e votando a favor apenas "de medidas que façam parte do programa do M5S".

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