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Presidente do Irã chama resolução da ONU de ´papel rasgado´

Ahmadinejad descarta suspender programa nuclear e rotula Conselho de ilegítimo

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, qualificou nesta quinta-feira, 14, uma eventual nova resolução com sanções da ONU de "pedaço de papel rasgado", que não teria nenhum efeito sobre o programa nuclear do seu país, segundo a agência estatal de notícias Irna. "Emitir tais pedaços de papel rasgado não terá qualquer impacto sobre o desejo da nação iraniana", disse Ahmadinejad em um comício no centro do país, segundo a Irna. Diplomatas de seis potências mundiais chegaram a um acordo preliminar para a imposição de novas sanções ao Irã, e o texto deve ser apresentado aos demais países do Conselho já na quinta-feira, caso os respectivos governos concordem. Ahmadinejad questionou a legalidade do Conselho de Segurança afirmando que "os inimigos do Irã tentam aproveitar o Conselho de Segurança para impedir o desenvolvimento (do país)", mas acrescentou que "para os povos, este Conselho não goza de nenhuma legalidade". Em discurso pronunciado perante milhares de iranianos na província central de Yazd, Ahmadinejad disse que "o Conselho de Segurança deve dizer aos povos quando foi justo e quando devolveu um direito", disse o dirigente iraniano, ao advertir que o Ocidente "não poderá impedir nosso desenvolvimento". Essas declarações ocorrem no momento em que os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU - EUA, Reino Unido, França, Rússia e China - e a Alemanha devem apresentar, ainda nesta quinta, aos demais membros do órgão, uma resolução com novas sanções ao Irã por negar-se a suspender o enriquecimento de urânio. Programa nuclear Os líderes iranianos descartam a hipótese de suspender as atividades nucleares, processo que pode gerar tanto material para usinas civis como para armas. Teerã garante que o objetivo do programa nuclear é apenas produzir eletricidade. Ahmadinejad reafirmou que as atividades atômicas iranianas "são transparentes" e "se realizam sob a total supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Ele insistiu em que "nenhum líder político (iraniano) é capaz de renunciar ao direito do povo de ter tecnologia nuclear". "Aconselhamos eles (países membros da ONU) a não se isolarem ainda mais, que reconsiderem suas decisões, que atuem de forma humana e que deixem de prejudicar os demais", acrescentou o líder iraniano. Em seu discurso em Yazd, Ahmadinejad também lembrou que o "Irã foi submetido a sanções (americanas) há 27 anos (após o triunfo da revolução islâmica, em 1979), e não recebeu nenhum aparelho eletrônico" do exterior. "Sob suas sanções conseguimos a tecnologia nuclear. Agora, imponham novas sanções e verão o que acontecerá no futuro", advertiu. "Vocês nos sancionaram no passado, mas nós obtivemos tecnologia nuclear. Imponham sanções econômicas contra nós hoje e vejam qual seria nosso próximo passo", afirmou. "Qual o objetivo de emitir tais resoluções? Hoje estamos dominando completamente o ciclo do combustível nuclear. Se todos vocês (ocidentais) se unirem e chamarem seus ancestrais do inferno também, nem assim vão conseguir conter a nação iraniana." Petróleo O ministro iraniano do Petróleo, Sayed Kazem Vaziri Hamaneh, assegurou que o país não reduzirá a produção de petróleo em decorrência das sanções econômicas. Em uma reunião da organização dos Países Exportadores do Petróleo (OPEP), em Viena, o ministro ressaltou que o Irã já sobrevive sob sanções há mais de 25 anos. "A política mundial do Irá é a cooperação com o resto do mundo, e um dos instrumentos dessa cooperação é a produção segura de combustível." Nos mercados mundiais de petróleo, ainda se mantém o temor de que um conflito pelo programa nuclear iraniano afete as exportações do país, o segundo maior produtor de hidrocarbonetos da OPEP e quarto do mundo. Mesmo com os preços não tão altos da commodity nos últimos meses, o petróleo permanece bastante sensível a problemas geopolíticos. Sanções Muitos políticos moderados do Irã culpam a retórica desafiadora de Ahmadinejad pelo isolamento internacional do país e querem um discurso menos confrontador. Dois importantes partidos reformistas pediram ao presidente que suspenda o enriquecimento em nome do interesse nacional, já que o isolamento poderia prejudicar a economia. As autoridades minimizam o impacto econômico das sanções. A nova resolução da ONU pode ser votada já na próxima semana, impondo sanções extras ao Irã por ter desrespeitado o prazo de 21 de fevereiro para suspender o enriquecimento. A nova resolução deve endurecer as sanções comerciais ao país. Enquanto a primeira restringia os negócios envolvendo materiais nucleares e tecnologia e congelou bens de iranianos, grupos e empresas, as novas medidas devem englobar desde um embargo à exportação de armas convencionais iranianas até a proibição a novos compromissos para empréstimos do governo. Washington garante estar buscando uma solução diplomática, mas não descarta uma ação militar como último recurso. O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, ameaça atacar interesses regionais dos EUA caso o país seja agredido.

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