Presidente do Irã diz estar disposto a negociar, mas sem ameaças

"Se alguém aponta uma pistola para sua cabeça e diz que você deve falar, o que você faria?", perguntou o presidente iraniano

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Por Agencia Estado
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O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, acusou nesta quinta-feira os Estados Unidos de utilizarem dois pesos e duas medidas no acesso à tecnologia nuclear, mas disse estar disposto a negociar sem ameaças nem coações. Em Jacarta, onde cumpre uma visita oficial de cinco dias, Ahmadinejad ressaltou que os Estados Unidos não podem ter o monopólio do conhecimento e devem permitir que outros países tenham acesso à tecnologia nuclear. "Se a tecnologia nuclear é tão ruim, por que os países ocidentais a têm?", disse o governante iraniano no auditório da Universidade Islâmica da Indonésia. "Não retrocederemos em absoluto", afirmou. As declarações arrancaram aplausos entre as mais de quinhentas pessoas presentes no auditório, onde se podiam ler cartazes com a frase "Bem vindo Ahmadinejad, lutemos contra o imperialismo". O líder iraniano reiterou que o objetivo do seu programa nuclear é pacífico e as desculpas para detê-lo são "grandes mentiras". "Se permitissem que países como o Irã e a Indonésia desenvolvessem este conhecimento, não seriam capazes de os subestimarem", disse Ahmadinejad. O presidente incitou os estudantes a desafiar as ameaças americanas. Estados Unidos, França e Reino Unido apresentaram uma resolução na ONU para impor sanções ao Irã caso não suspenda imediatamente o enriquecimento de urânio, passo fundamental para o desenvolvimento de energia atômica. O Ocidente teme que o governo de Teerã desvie parte da produção de urânio enriquecido para a fabricação de armas nucleares de destruição em massa. Indonésia País com a maior comunidade muçulmana do mundo, a Indonésia tem se posicionado a favor do Irã e do desenvolvimento pacífico de energia nuclear. "A Indonésia sabe que seu petróleo acabará até 2015 e também quer apostar na energia nuclear, por isso apóia o Irã", disse o diretor do departamento de ciências naturais da Universidade Islâmica, Agus Salim. "O país está começando a desenvolver tecnologia nuclear. Ainda há um longo caminho pela frente, mas as apostas mais relevantes vão nesta direção, e não na do biodiesel ou em outras energias alternativas", acrescentou o analista. Entre os estudantes, o apoio ao dirigente iraniano era ainda mais notável e alguns compararam o carisma de Ahmadinejad com Sukarno, o primeiro presidente da República da Indonésia. "Admiramos o carisma e a coragem de Ahmadinejad, que se atreveu a dizer aos Estados Unidos que ele não pode governar todo o mundo. A Indonésia não teve um líder assim desde Sukarno", disse Ika, estudante de 21 anos. Além do respaldo indonésio, a China e a Rússia se mostraram reticentes à imposição de sanções econômicas e apostam numa saída negociada para a crise. O líder iraniano reiterou nesta quinta-feira sua vontade de manter as negociações, embora tenha descartado que estas possam se desenvolver sob ameaças. "Se alguém aponta uma pistola para sua cabeça e diz que você deve falar, o que você faria?", perguntou o presidente em declarações à rede de televisão local Metro TV. Segundo Ahmadinejad, o Irã não teme o isolacionismo nem as sanções que as Nações Unidas possam impor caso a resolução seja aprovada. O governante iraniano fez discursos nas principais universidades da Indonésia, nos quais fez duras críticas a Israel. Ahmadinejad chamou o governo israelense e os países ocidentais que o protegem de "regimes diabólicos". "Se nenhum país ocidental apoiasse Israel, eles fracassariam, e, se isso acontecesse, os palestinos recuperariam sua liberdade", disse. Ahmadinejad se reunirá nesta sexta-feira com os dirigentes das principais organizações muçulmanas do país, Nahdlatul Ulama e Muhammadiyah. Pela tarde, o presidente viajará para a ilha de Bali para participar da quinta cúpula do D-8 (oito países de maioria islâmica: Bangladesh, Egito, Indonésia, Irã, Malásia, Nigéria, Paquistão e Turquia). O Irã ocupa atualmente a Presidência do D-8 e cederá o posto à Indonésia durante a reunião de dois dias.

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