Presidente eleito frustra árabes ao evitar falar de crise

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Por Simon Tisdall e The Guardian
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As chances de Barack Obama de inaugurar um novo relacionamento dos EUA com o mundo islâmico, e o Oriente Médio em particular, aparentemente diminuem a cada nova onda de ataques israelenses em Gaza. O que não parece justo, uma vez que o presidente eleito só assumirá o cargo no dia 20. Mas as guerras lá fora não esperam as posses em Washington. Obama manteve-se calado nos dez primeiros dias da crise de Gaza. Seus assessores dizem que ele se limita a obedecer ao protocolo, segundo o qual os EUA têm um só presidente de cada vez. Entretanto, é cada vez mais evidente que Obama já está perdendo terreno entre um público significativo no mundo árabe e islâmico, que não compreende por que, depois de prometer mudanças, ele ainda não se manifestou de maneira enfática. Os comentaristas árabes afirmam que há um crescente desapontamento com a posição de Obama - e o fato de ele não se distanciar da posição de George W. Bush, favorável a Israel, estimula a convicção de que ou compartilha da visão de Bush ou simplesmente não está se importando. A emissora de TV Al-Jazira exibiu recentemente imagens das férias de Obama no Havaí, em que ele aparecia de shorts e jogando golfe, ao lado de cenas sangrentas e de tumultos em Gaza. "As pessoas veem seu silêncio como um sinal negativo", disse o analista jordaniano Labib Kamhawi. Os críticos da região afirmam que Obama só quebra a regra do "sem comentários", que antecede a posse, quando lhe convém. Eles notaram sua imediata condenação dos ataques terroristas em Mumbai, em novembro. Obama também deu frequentes declarações sobre a crise econômica mundial. Neste momento, não é totalmente certo que Obama possa explicar se sua política palestino-israelense será diferente da dupla Bush-Cheney. Manter a posição da linha dura americana, que atribui todos os problemas atuais ao Hamas, será o fim de toda esperança real de reconquistar a opinião árabe - e poderá ter uma série de consequências negativas para os interesses americanos no Iraque, no Afeganistão e no Golfo. Mas se Obama adotar uma posição mais dura (alguns diriam mais equilibrada) com Israel, por exemplo exigindo o fim permanente do bloqueio de Gaza, ou abrindo caminho para um diálogo com o Hamas, correrá o risco de uma violenta reação da direita israelense, encorajando os inimigos de Israel, e perdendo o apoio internamente por poucas vantagens políticas. Durante a campanha, Obama apoiou Israel e condenou especificamente o Hamas. Mas ao mesmo tempo acenou com a perspectiva de mudanças radicais nas relações ocidentais com os muçulmanos em qualquer parte do mundo. Enquanto o número de mortos aumenta em Gaza, e Obama continua mantendo a cabeça baixa, esses sentimentos começam a soar um tanto vazios. O perigo é que quando finalmente aparecer no balcão da Casa Branca, no dia 21, a batalha de percepções possa estar perdida pela metade. *Simon Tisdall é colunista do jornal britânico ?The Guardian

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