Presidente paraguaio busca apoio para conter protestos e evitar impeachment 

Pela quarta noite seguida, manifestantes pedem renúncia de Mario Abdo Benítez, acusado de ser responsável pela falta de vacinas contra covid; oposição confirma que iniciará procedimento na Câmara dos Deputados, mesmo sem ter os votos

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Por Redação
Atualização:

ASSUNÇÃO - O presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, começou a se articular para tentar conter os protestos e evitar um impeachment. Nesta segunda-feira, ele obteve apoio de aliados do seu antecessor, Horacio Cartes, para blindar seu governo no Congresso. Pela quarta noite seguida, manifestantes se reuniram em Assunção para pedir a renúncia de Benítez, acusado de negligência no combate à pandemia de coronavírus.

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 Os opositores de Benítez também se movimentam para aproveitar a onda de insatisfação popular. Os 29 deputados do Partido Liberal, o maior da oposição, afirmaram nesta segunda-feira que formalizarão um processo de impeachment do presidente paraguaio, apesar de não terem maioria na Câmara dos Deputados.

A saída de Benítez é a principal reivindicação dos protestos, que começaram na sexta-feira, em Assunção. Os manifestantes reclamam da falta de tratamento para a covid em hospitais. O deputado liberal Celso Kennedy anunciou hoje que o processo será redigido pelos parlamentares Rodrigo Blanco, Jorge Ávalo Mariño e Celeste Amarilla.

Manifestante com a bandeira do Paraguai enfrenta enfrenta polícia em Assunção Foto: Cesar Olmedo/Reuters

Seriam necessários 53 votos favoráveis para aprovar o início do processo de impeachment na Câmara dos Deputados. Em seguida, o julgamento seria levado ao Senado, com 45 membros, que atuariam como juízes – em um procedimento parecido com o brasileiro. 

Hoje, Benítez confirmou a troca de ministros para tentar acalmar a população, incluindo o titular do Ministério da Saúde, que passou a ser ocupado por Julio Borba, até então número dois da pasta. A pequena reforma ministerial, no entanto, não parece ter salvado a pele de Benítez. No início da noite, manifestantes se reuniram novamente nas ruas de Assunção para pedir sua renúncia. 

“O presidente tem de renunciar, a corrupção é muito grande”, disse a bióloga Carola Recalde, que compareceu à Praça do Congresso carregando a bandeira do país. “Ninguém mais confia em Marito, por causa da corrupção. A mudança de ministros não é suficiente, ele tem de renunciar”, afirmou a dona de casa Lidia Benítez, que passou 40 dias ao lado da mãe, que teve covid. Ela disse que o prejuízo econômico da sua família foi “milionário”.

Um ano após a detecção do primeiro caso de covid no Paraguai, a gestão da pandemia pelo governo tem sido contestada pela população em razão da demora na chegada de vacinas contra a covid-19 e da falta de medicamentos para tratar pacientes internados com a doença nas UTIs.

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Polícia usou jatos de água para dispersar manifestantes Foto: Nathalia Aguilar/EFE

A chegada de apenas 4 mil doses da Sputnik V, a vacina russa, que seriam destinadas a profissionais que trabalham nas UTIs provocou um descontentamento generalizado. No sábado, o presidente chileno, Sebastián Piñera, ajudou Benítez, enviando 20 mil doses da Coronavac. Hoje, o presidente do Senado, Oscar Salomón, anunciou que em poucos dias chegarão mais 36 mil doses. “Queremos obter a maior quantidade de vacinas no menor tempo possível”, disse Borba, novo ministro da Saúde.

Melhor que Brasil

Com uma população de 7 milhões de habitantes, o Paraguai registrou 165 mil casos de covid-19 e 3,2 mil mortes em decorrência da doença. O país tem registrado números recordes de novos casos: na semana passada foram 115 a cada 100 mil habitantes.

Segundo dados da Universidade Johns Hopkins, os números registrado no Paraguai, no entanto, são melhores que os brasileiros. O país tem cerca de 23 mil casos confirmados por cada milhão de habitantes, menos da metade do que tem o Brasil, com 51 mil por milhão de habitantes. Em número de mortes, os paraguaios têm 465 por milhão, enquanto o Brasil tem quase três vezes mais, 1,25 mil por cada milhão de habitantes. / REUTERS, AFP e EFE 

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