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Presidente tenta salvar Conferência contra o Racismo

Por Agencia Estado
Atualização:

A retirada das delegações dos Estados Unidos e de Israel abalou a Conferência Mundial contra o Racismo, mas os representantes dos demais países recobraram o ânimo, depois que a presidente da reunião, Nkosazana Dlamini Zuma, ministra do Exterior da África do Sul, fez um apelo para que os trabalhos fossem levados adiante. A ministra criou uma comissão de cinco membros para estudar os problemas do Oriente Médio, a questão mais complexa em discussão. A ausência da representação norte-americana pesa porque os Estados Unidos contribuem com cerca de 20% dos recursos da Organização das Nações Unidas. Teme-se que, embora a adoção das resoluções a serem aprovadas dependa de cada país-membro, o governo norte-americano venha a opor obstáculos à destinação de fundos da ONU para o financiamento do programa de ação, sob a alegação de que não vai dar dinheiro para programas que não aprovou. A preocupação maior, no entanto, não era esta, mas o receio de que o Canadá, a Austrália e os principais países europeus também se retirassem de Durban. Como isso não ocorreu, os grupos de trabalho voltaram a reunir-se com mais tranquilidade hoje à tarde. Num dos debates da manhã, a delegação da União Européia levantou-se das cadeiras e ameaçou ir embora, ao discordar de uma votação sobre a reparação devida pelos países colonizadores. Ao lado do problema do Oriente Médio, as questões da compensação e da definição da lista de vítimas de racismo e discriminação são os pontos mais delicados da conferência. Os europeus resistem a assumir compromissos que os obriguem a indenizar os herdeiros de seus colonizados, enquanto delegados de vários países, independentemente da geografia, discordam sobre a lista de vítimas, especialmente quando se fala de direito a orientação sexual. "Os resultados desta Conferência contra o Racismo vão ser pífios, por culpa dos Estados Unidos e dos países da Europa", prevê o professor Paulo Sérgio Pinheiro, da Universidade de São Paulo, que foi à África do Sul como especialista da Comissão de Direitos Humanos da ONU. Em sua avaliação, os Estados Unidos fazem jogo duplo, porque retiraram a delegação de Washington, mas mantiveram uma pequena equipe de diplomatas subalternos na reunião - o que permitira aceitar ou rejeitar as resoluções, de acordo com a conveniência. Pinheiro acha que, sob a liderança dos Estados Unidos, os países ocidentais estão agindo como no tempo da Guerra Fria. "Os protagonistas dessa guerra são os países ocidentais e as ditaduras árabes que transformaram Durban num fórum sobre a questão do Oriente Médio, em torno de acusações anti-semitas e anti-sionistas contra Israel". O professor da USP disse que, embora seja a favor dos palestinos, não pode concordar que a Conferência contra o Racismo se transforme num palco de discussão sobre essa questão. "Com exceção do Brasil, que enviou uma delegação grande e atuante à África do Sul, os países latino-americanos não têm a menor importância nesta reunião, pois participam da discussão como se o problema não fosse com eles", disse Paulo Sérgio Pinheiro. "A diplomacia brasileira salvou a festa, porque preparou a conferência com seriedade e competência", acrescentou o sociólogo paulista. Para ele, seria uma injustiça criticar o governo pelo fato de haver financiado as despesas dos delegados oficiais, "porque não se trata de um trem da alegria, mas de uma viagem de trabalho de gente capaz". A embaixada do Brasil credenciou 185 delegados, mas nem todos vieram a Durban. O governador de Alagoas, Ronaldo Lessa, por exemplo, consta da lista, mas não chegou a viajar, por problemas de saúde. De acordo com a relação que esta sendo encaminhada à secretaria da ONU para efeito de registro, são 48 os delegados oficiais. Alguns deles, a começar pelo ministro da Justiça, José Gregori, já voltaram ao Brasil. O rabino Henri Sobel, presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista, anunciou que regressará amanhã cedo a São Paulo, porque não se sente a vontade em Durban, depois da retirada de Israel. O rabino mudou de idéia, porque na véspera ele havia afirmado que ficaria até o fim.

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