O establishment de Washington demonizado por Donald Trump durante a campanha eleitoral aplaudiu em uníssono sua decisão de bombardear a Síria em resposta ao ataque químico de terça-feira, enquanto muitos de seus eleitores viram a ação como uma traição da promessa de abandonar intervenções militares no exterior e colocar os interesses dos americanos em primeiro lugar.
“Trump está fazendo o que disse que não faria”, disse o historiador Geoffrey Kabaservice, autor do livro Rule and Ruin, sobre a perda de espaço dos moderados dentro do Partido Republicano. “Seus eleitores da direita estão furiosos, pois ele prometeu que adotaria uma política externa diferente da dos neoconservadores”, ressaltou, referindo-se aos falcões republicanos que defendem uma política militar agressiva e intervencionista.
De acordo com Kabaservice, Trump corre o risco de alienar parte de seus eleitores se ficar parecido a um presidente americano tradicional. “A eleição foi sobre mudança.”
Muitos integrantes do establishment de Washington dedicados à política externa viram com alívio a decisão do presidente de ouvir generais experientes e adotar uma ação que poderia ser tomada pela democrata Hillary Clinton ou um presidente republicano tradicional.
Durante a campanha, Trump criticou reiteradamente a invasão do Iraque idealizada pelos neoconservadores no governo George W. Bush e repetiu em várias ocasiões que os EUA deveriam deixar de ser “a polícia do mundo”. Em seu discurso de posse, afirmou que seria presidente dos americanos e colocaria seus interesses em primeiro lugar.
O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, disse ontem que a decisão de bombardear a Síria foi tomada pouco depois das 16 horas de quinta-feira. Segundo ele, a ação militar começou a ser discutida às 10h30 de terça-feira, quando o presidente foi informado do ataque com armas químicas que deixou mais de 80 mortos na Síria.
Spicer disse que os 59 mísseis foram lançados às 19h40 (20h40, horário de Brasília) e começaram a atingir o alvo entre 20h30 e 20h40. Nesse momento, Trump estava no fim de seu jantar com o presidente da China, Xi Jinping, e o informou do ataque.
Ao mesmo tempo, integrantes do governo começaram a telefonar para líderes estrangeiros e integrantes do Congresso para comunicá-los da ação. Apesar de a maioria ter apoiado a ação, muitos parlamentares declararam que preferiam ter sido consultados com antecedência.