Pressão por iraniana busca afastar Irã de Brasil e Turquia, diz porta-voz

Representante da chancelaria iraniana, porém, diz que tem certeza de que oferta de asilo brasileira foi 'humanitária'.

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Por BBC Brasil
Atualização:

Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã disse nesta terça-feira que a pressão internacional relacionada ao caso da iraniana Sakineh Ashtiani, condenada à morte, seria parte de um plano para enfraquecer o relacionamento entre o país, o Brasil e a Turquia. "Quando forem reveladas mais informações sobre este caso se concluirá que a atmosfera sendo criada por governantes ocidentais e a imprensa é um plano para causar problemas aos estreitos laços de Irã, Brasil e Turquia", disse Ramin Mehmanparast. "É natural que uma pessoa que cometeu um crime seja julgada em nosso país, especialmente se ela cometeu um assassinato." "Não se deve apoiar ou oferecer asilo em casos de assassinato, apesar de termos certeza de que a oferta brasileira foi baseada em motivos humanitários e na sua relação próxima e amistosa com este país", completou. Ahmadinejad No domingo, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, afirmou que Sakineh não deve ser enviada ao Brasil, mesmo após a oferta de asilo feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no final do mês passado. "Os juízes são independentes (no Irã). Eu conversei com o chefe do Judiciário, mas o Judiciário não concordou com isso (a oferta de asilo)", disse Ahmadinejad, em suas primeiras declarações públicas a respeito da oferta brasileira. Na entrevista, que foi transmitida com legendas em inglês, o presidente iraniano disse ainda que enviar a condenada ao Brasil poderia prejudicar Lula. "Eu acho que não é necessário criar um problema para o presidente Lula e levá-la ao Brasil. Nós estamos preparados para exportar nossa tecnologia para o Brasil e não este tipo de gente", disse Ahmadinejad. Nesta segunda-feira, a embaixada do Irã no Brasil divulgou uma declaração à imprensa onde pergunta "quais são as consequências desse tipo de tratamento com os criminosos e assassinos? Será que esse ato não promoverá e não encorajará criminosos a praticar crimes? Será que a sociedade brasileira e o Brasil têm que ter, no futuro, um lugar dos criminosos de outros países em seu território?". Por meio do documento, a representação diplomática iraniana em Brasília afirma que, além de adultério, Ashtiani é acusada pela morte de seu marido, o que seria "o crime principal" que pesa contra ela. "A senhora Sakineh Mohammadi, há alguns anos, praticou um crime de homicídio contra seu marido, pelo qual foi processada e presa. (...). Por essa razão, o crime principal praticado pela cidadã iraniana é de homicídio", diz a nota. Confissão Ashtiani, de 43 anos, está presa no Irã desde 2006. Inicialmente ela foi acusada de adultério e condenada a uma sentença de apedrejamento. Posteriormente, a sentença de apedrejamento foi suspensa. Sakineh, no entanto, está sendo acusada de participação no assassinato de seu marido e ainda pode ser executada por enforcamento. Na semana passada, a TV estatal iraniana levou ao ar uma suposta entrevista com Sakineh, em que a iraniana admite ter conspirado para matar o marido. A "confissão" foi condenada pela Anistia Internacional, organização de defesa dos direitos humanos. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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