Pressionado, Ahmadinejad cede e demite seu vice

Destituição ocorre após ordem do líder supremo e emissão de fatwa

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Por AP E REUTERS
Atualização:

Após desafiar por cinco dias o supremo líder do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, o presidente Mahmoud Ahmadinejad finalmente cedeu e destituiu ontem seu principal vice-presidente, Esfandiar Rahim Mashai - que é sogro de seu filho. Segundo a agência oficial de notícias Irna, um assessor da presidência, Mojtaba Samareh, afirmou que, após a ordem pública de Khamenei, "Mashai não se considera mais vice-presidente do país". O político provocou uma polêmica entre os líderes linhas-duras do Irã, ao dizer, no ano passado, que "os iranianos eram amigos de todos os povos, até mesmo dos israelenses". Horas antes do anúncio da destituição, diversos líderes conservadores iranianos aumentaram a pressão contra Ahmadinejad, alertando que sua desobediência a Khamenei poderia minar sua legitimidade. "Agora que Khamenei expressou sua opinião, não há mais espaço para adiamentos. A legitimidade de todo o sistema islâmico está no líder supremo", afirmou o aiatolá Ahmad Khatami, durante as orações de sexta-feira. Já o graduado clérigo Nasser Makarem Shirazi emitiu uma fatwa - decreto islâmico - contra Mashai. Ainda ontem, centenas de estudantes conservadores saíram às ruas em Teerã para pedir a saída da Mashai. "A nomeação de Mashai como vice-presidente contraria nossos interesses e os interesses do governo. Isso pode causar uma divisão entre seus partidários. É necessário suspender sua nomeação", disse Khamenei, na segunda-feira. No entanto, até então, essas declarações haviam sido publicadas somente na imprensa semioficial, o que dava a Ahmadinejad uma margem para agir, como se não fosse uma ordem definitiva. ?PIEDOSO E HONESTO? O presidente havia pedido mais tempo para justificar a nomeação de Mashai, que ocorreu no dia 16, e o qualificara como uma pessoa "piedosa, honesta, criativa e preocupada com o Irã". Ontem, no entanto, as ordens de Khamenei foram transmitidas na emissora estatal e reproduzidas pela agência oficial Irna - deixando Ahmadinejad sem opção. A polêmica envolvendo Mashai provocou uma rara divisão entre o presidente e os linhas-duras, que foram a base de seu apoio político. Além disso, o problema veio à tona num momento delicado para Ahmadinejad. Isso porque o líder iraniano luta contra os opositores reformistas, que o acusam de ter fraudado as eleições do dia 12, no qual foi reeleito. Khamenei tem a palavra final sobre todos os assuntos de Estado e raramente foi desafiado no passado. No entanto, após as eleições, sua legitimidade foi questionada pelos partidários do candidato opositor, Mir Hossein Mousavi, pois o líder supremo declarou que a votação tinha sido justa. A disputa sobre o vice-presidente indica uma tentativa de Khamenei de reconsolidar seu status, diante da ameaça dos reformistas. Ao pedir a demissão de Mashai, Khamenei apropriou-se de um novo poder, pois normalmente os líderes supremos não intervêm abertamente para a remoção de um funcionário do governo, embora isso ocorra nos bastidores.

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