(Atualizada às 23h35)
PARIS - Pressionado pela imprensa nacional, internacional e por segmentos da opinião púbica que reprovam sua conduta pessoal, o presidente da França, François Hollande, prometeu dizer até 11 de fevereiro sobre se manterá ou não sua relação com a atual primeira-dama, a jornalista Valérie Trierweiler. A data marcará sua chegada a Washington para uma visita de Estado oferecida pelo presidente dos EUA, Barack Obama.
O compromisso foi fixado na terça-feira, 14, pelo próprio chefe de Estado, que concedeu uma entrevista coletiva de quase três horas no Palácio do Eliseu.
Nos últimos dias, Hollande tentou concentrar o foco da imprensa na guinada liberalizante da política econômica de seu governo, mas tudo indicava que o interesse giraria em torno de sua vida privada. Na Grã-Bretanha, a rede de TV Channel 4 News, que transmitiu trechos da entrevista, chegou a criar uma vinheta em que o presidente francês aparece no centro, ladeado por Valérie e pela atriz Julie Gayet, com quem ele tem um caso, de acordo com a revista de fofocas Closer.
O interesse de boa parte dos 680 jornalistas que compareceram ao Palácio do Eliseu ficou claro quando, na primeira pergunta, um repórter francês evocou suposta a "obrigação de clareza" do presidente sobre o caso: "Hoje Valérie Trieeweiler ainda é primeira-dama da França?", questionou. Hollande foi evasivo. "Eu compreendo sua questão e estou certo que você compreenderá minha resposta", disse. "Cada um em sua vida pessoal pode atravessar desafios. Este é o caso atual. É doloroso. Mas tenho um princípio: assuntos privados devem ser tratados em particular."
Hollande afirmou ainda que a entrevista não seria "nem o lugar, nem o momento" de abordar o tema. A seguir, fez a promessa: "Se eu não responder a nenhuma questão sobre esse tema hoje, eu o farei antes do compromisso que você evocou", disse, referindo-se à viagem a Washington. A viagem será a última de uma série de compromissos na Turquia, na Holanda e no Vaticano.
O presidente foi indagado ainda pelo menos outras quatro vezes sobre o assunto, sempre respondendo de forma monossilábica. Sobre a saúde de Valérie, internada em um hospital de Paris com um quadro de depressão, afirmou que ela "está repousando". Sobre sua segurança - as visitas ao apartamento de Julie Gayet aconteceriam de scooter e com a escolta de um guarda-costas -, afirmou que "está garantida em qualquer lugar, e a qualquer momento", aproveitando para alfinetar o chefe da oposição, Jean-François Copé, que o questionou sobre o tema.
Sobre a ameaça que fez de processar a revista Closer pela reportagem de sete páginas que trouxe fotos suas entrando no prédio de Julie Gayet, Hollande se disse dividido. "Se me contenho é porque não quero que haja resposta desmedida. Mas minha indignação é total."
Ontem, François Rebsamen, deputado socialista e amigo do chefe de Estado, evocou a hipótese de extinguir o "status" de primeira-dama, que não tem definição legal no país.
Alain Juppé, ex-primeiro-ministro e um dos líderes do partido de centro-direita União por um Movimento Popular (UMP), ironizou a proposta, questionando se o país precisa criar o "status de primeira-dama e para a segunda-dama também".
Sobre essa discussão, Hollande se posicionou. "Nunca houve esse status. Há atribuições que variam de tempo e de chefe de Estado, é um costume", argumentou, defendendo apenas que "meios consagrados ao cônjuge devem ser públicos". Valérie Trierweiler milita por causas humanitárias e, para tanto, tem um gabinete no Palácio do Eliseu e cinco assessores. O custo é de € 19 mil por mês (R$ 60 mil).