Primeiro museu do Holocausto do Brasil é apresentado em Curitiba

Museu será inaugurado no domingo, mas estará aberto para visitação apenas a partir de fevereiro

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Por Evandro Fadel e de Curitiba
Atualização:

CURITIBA – A comunidade judaica de Curitiba apresentou nesta quarta-feira, 16, o primeiro Museu do Holocausto do Brasil, que será inaugurado no domingo, tendo como objetivo primordial o aspecto pedagógico. "Pretendemos não atacar qualquer etnia, não temos intuito político nem de propaganda; o que queremos é levar à reflexão o momento atual, em que a intolerância em relação ao diferente vem à tona", disse o empresário Miguel Krigsner, que preside a Associação Casa de Cultura Beit Yaacov, administradora do museu.

 

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"Precisamos saber o que é possível fazer com uma propaganda orientada, como o ódio é gerado com informações distorcidas", reforçou Krigsner, descendente de judeus que sofreram com as perseguições durante a Segunda Guerra. Ele disse que começou a pensar no museu há cerca de 10 anos, quando ainda estava à frente da direção do grupo O Boticário. "Mas foi de difícil materialização, porque requer pesquisa aprofundada e uma busca de acervo", afirmou. Nas edificações do museu, que ocupa um espaço ao lado do Centro Israelita do Paraná, foram gastos cerca de R$ 1 milhão.

 

Contribuições

 

Para o acervo, os organizadores contaram com a colaboração de sobreviventes do Holocausto e de seus familiares. No Paraná, a comunidade judaica conseguiu levantar uma lista com 82 nomes de pessoas que sofreram algum tipo de perseguição entre 1933 e 1945. Desses, 15 ainda estão vivos. Deles vieram doações de documentos, fotos e certidões. Também foi importante a parceria com museus semelhantes espalhados pelo mundo.

 

Do Yad Vashem, o Museu do Holocausto de Jerusalém, veio uma das peças mais preciosas, um fragmento da Torá, o livro sagrado judaico, salvo da Noite dos Cristais, quando sinagogas foram queimadas em 9 de novembro de 1938 em toda a Alemanha e Áustria. Também é possível ver um cartão de racionamento alimentar, a réplica de uma boneca que está no Museu de Washington, cartazes, livros e muitas fotos. Na parte externa, há pedras trazidas de Jerusalém e desenhos em bronze reproduzindo fotos da opressão nazista.

 

"O espaço do museu é pequeno, estrangulado, um caminho tortuoso, e isso é de propósito", disse a especialista em Museologia Maria Eugênia Saturni, que ajudou na montagem do local, ao lado do Centro Israelita do Paraná, no Bairro Bom Retiro.

 

Caminhando por ele, o visitante conhece a vida dos judeus no pré-guerra, a perseguição e a resistência durante o domínio nazista, e o pós-guerra, com os campos de refugiados e rotas de imigração. Para contar a história, além de fotos, objetos e mapas, há multimídias, inclusive telefones em que se ouve a história de "justos", os não judeus que ajudaram a salvar pessoas da morte.

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Em razão do espaço, as visitas, que serão liberadas a partir de fevereiro do próximo ano, precisam de agendamento e os grupos não podem ultrapassar 30 pessoas. "O objetivo é fazer com que seja o mais proveitoso possível", disse o coordenador do museu, Carlos Reiss. Ele espera que, a partir da divulgação da montagem do museu, novos objetos sejam agregados ao acervo. "A cada dia nos chegam muitos tesouros e a gente acredita que há muito mais guardado por aí", afirmou.

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