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Principal opositor na Argentina denuncia fraude em cabines de votação

Eleitores do peronismo teriam retirado cédulas da chapa de Macri dos postos de votação para prejudicar adversário

Por Rodrigo Cavalheiro - Correspondente/Buenos Aires
Atualização:

LANÚS - O candidato opositor Mauricio Macri disse que cédulas de seu partido, o Proposta Republicana (PRO), foram furtadas de salas de votação durante a primária argentina disputada neste domingo.

No sistema de votação da Argentina, o eleitor deposita num envelope uma espécie de santinho que leva o nome dos candidatos a todos os cargos em disputa naquela região do país. Cada partido ou coalizão, portanto, tem sua cédula, que fica à disposição em uma sala de votação isolada. Isso permite que um eleitor retire os santinhos do rival para prejudicá-lo. 

Juan Ángel Gómez, vidraceiro aposentado, de 74 anos, que vota há50 anos no peronismo Foto: RODRIGO CAVALHEIRO/ESTADÃO

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Cabe aos partidos manter os papéis de seus candidatos em número suficiente, mas muitos não têm estrutura para fiscalizar todas as mesas – casos do PRO, forte nas maiores cidades do país, e de pequenos partidos de esquerda. 

“Alguns entram (na votação) magros e saem gordinhos, cheios de cédulas”, afirmou Macri depois de votar. Ele pressiona pela adoção do voto eletrônico, usado na capital na eleição que definiu em julho seu sucessor na prefeitura – por 1,5%, ganhou seu candidato, Horacio Larreta, um resultado mais apertado do que esperava.

Se o eleitor argentino deseja escolher o candidato a presidente de um partido e o governador de outro, deve levar uma tesoura e recortar o pedaço da cédula em que aparece o rosto de cada um. Por essa razão, o voto cruzado é raro. Em geral, o eleitor escolhe a cédula do partido com que mais se identifica, dobra aquele grande pedaço de papel e o coloca no envelope que irá para a urna. 

Em Lanús, a 20 minutos em trem de Buenos Aires, o entregador Quin Leonardo Soria, de 49 anos, votou em Macri depositando na urna uma cédula do tamanho de sua neta de 5 anos – a menina mede 1,10m.

“Temos de mudar muitas coisas nesse país. Por isso vou com a oposição”, disse, encharcado pelo temporal que prejudicou o processo eleitoral e formou longas filas na região metropolitana, principalmente à tarde. Quin levou a neta e a filha antes do churrasco dominical à escola em que vota.

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Reduto kirchnerista. A cidade, de 460 mil habitantes, faz parte da Província de Buenos Aires, que tem 37% do eleitorado do país, 35 mil mesas de votação e é governada pelo candidato presidencial peronista, Daniel Scioli, há oito anos. Dentro dessa região – da qual não faz parte a capital –, a área que mais concentra população é o anel metropolitano, que, sozinho, tem 25% dos eleitores. 

Esses municípios do entorno de Buenos Aires são considerados pela oposição os pontos mais difíceis de fiscalizar, por serem governados em sua maioria por prefeitos peronistas há décadas. O vidraceiro aposentado Juan Ángel Gómez, de 74 anos, explica em parte a popularidade local do peronismo – do qual o kirchnerismo é uma versão mais radical.

“As pessoas falam em mudar, mas se esquecem que em 2001 não havia um carro ou ônibus na rua depois das 17h. Havia fome”, afirmou, referindo-se à maior crise econômica e institucional pela qual passou o país. 

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Ele começou a participar do movimento nos anos 50, ainda adolescente, quando os campeonatos de futebol chamados Evita distribuíam uniformes. “Não me compraram com a camiseta. O fato é que é o único movimento que se preocupa com os pobres. O peronismo me permitiu comer goiabada pela primeira vez. Enquanto eu como, não quero meu vizinho passando fome. Acho que todos devem estar incluídos”, afirmou, para justificar os planos assistenciais que hoje chegam a três de cada sete famílias argentina.

Eleitor de Scioli, Gómez admite não saber que tipo de peronista ele seria no poder. No governo da província, caracterizou-se por um perfil conciliador não aceito pela base do kirchnerismo, que prefere o confronto. “Minha teoria é seguir sempre o peronismo. E se votei duas vezes em (Carlos) Menem, posso votar uma vez no Scioli.”, disse, sorrindo.

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