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Príncipe Charles diz que seu Aston Martin funciona à base de queijo e vinho 

O futuro rei está empenhado em reduzir sua pegada de carbono, mas especialistas alertam que a solução adotada por ele não é o ideal para a maioria das pessoas

Por Jennifer Hassan
Atualização:

LONDRES - O príncipe Charles falou de seus esforços pessoais para combater a crise climática, que incluem abastecer seu Aston Martin com subprodutos de vinho e queijo e a instalação de painéis solares em sua residência real, a Clarence House.

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Em entrevista para a BBC, ele conversou sobre sua pegada de carbono antes da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP-26, cujo início será no fim deste mês. O herdeiro do trono britânico disse que o veículo, que ele possui há mais de 50 anos, funciona com "o excedente de vinho branco inglês e soro de leite da fabricação de queijo".

O carro real foi convertido para funcionar com um biocombustível conhecido como E85 - que é uma mistura de 85% de etanol e 15% de gasolina sem chumbo.

O príncipe Charles ao lado do seu Aston Martin DB6 na fábrica da montadora, em Barry, no País de Gales, em fevereiro de 2020. Foto: REUTERS/Rebecca Naden/Pool

Embora isso signifique que o combustível seja mais sustentável, há desvantagens em usar o substituto, que é feito de biomassa a partir de produtos como açúcar, trigo ou milho. Os motores dos veículos precisam ser modificados para funcionarem com essa substância, e a necessidade de plantações de um produto para a fabricação de um biocombustível implica em maior demanda de áreas florestais.

“Em grande escala, os biocombustíveis fazem mais mal do que bem, levando ao desmatamento e a alterações do uso do solo que pioram a crise climática”, disse Greg Archer, diretor de um grupo europeu de transporte limpo, ao jornal The Guardian.

Archer alertou os motoristas para não confundir o método do futuro rei com "uma solução séria para descarbonizar os veículos."

O príncipe passou décadas fazendo campanha por um futuro mais sustentável e no início deste ano apelou aos líderes mundiais que se unissem para ajudar a combater a crise climática.

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“Vamos unir forças e não perder mais tempo”, ele pediu durante o One Planet Summit de janeiro. Em entrevista à BBC, Charles disse que a ação para combater a emergência climática estava demorando "demais". Ele acrescentou que entendia a frustração sentida pelos jovens porque “eles veem o futuro deles sendo totalmente destruído”.

“Eu entendo completamente a frustração”, afirmou. “A dificuldade é como você direciona essa frustração de uma forma que seja mais construtiva do que destrutiva.” 

Nas últimas semanas, manifestantes do grupo ativista Insulate Britain bloquearam as principais ruas do país, levando a um caos generalizado e confrontos raivosos. O grupo está exigindo que o governo proteja todas as moradias sociais até 2025.

Separadamente, a ativista Greta Thunberg criticou os "chamados líderes" do mundo durante um discurso acalorado na cúpula italiana Youth4Climate, no mês passado, acusando políticos de não agirem em meio à emergência climática e descrevendo suas promessas como décadas de "blá, blá, blá".

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Charles parecia concordar com Greta sobre haver muita conversa entre as autoridades e poucas ações concretas. “Eles apenas conversam”, disse Charles à BBC. “O problema é tentar entrar em ação de verdade.”

A COP-26 será realizada em Glasgow, Escócia, do final deste mês até 12 de novembro. A conferência receberá líderes, cientistas e ativistas enquanto eles avaliam os objetivos do Acordo de Paris de 2015 e trabalham para proteger as comunidades afetadas pelas mudanças climáticas.

Espera-se que as autoridades participantes apresentem metas de redução de emissões para 2030, que incluam reduzir o desmatamento e trabalhar para eliminar gradualmente o carvão.

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Durante a entrevista, o príncipe e cinegrafistas passearam pelos exuberantes jardins verdes da propriedade real de Balmoral, um espaço cujo nome (Prince George Wood) homenageia seu primeiro neto, o príncipe George.

Ele disse que outras medidas tomadas por ele para reduzir sua pegada de carbono incluem não comer laticínios uma vez por semana e usar veículos elétricos.

Nas redes sociais, as reações às confissões do príncipe foram variadas. Alguns críticos apontaram que a família real viaja com frequência em helicópteros particulares; voos que, segundo os especialistas em aviação, geram de 10 a 20 vezes mais emissões de carbono que os voos comerciais.

No ano passado, a Clarence House foi obrigada a defender o príncipe depois de ele usar uma aeronave particular para percorrer um trajeto de cerca de 200 quilômetros para fazer um discurso sobre a redução das emissões de carbono das aeronaves. O Daily Mirror relatou que a viagem inteira - que incluiu uma parada para ver sua mãe, a rainha Elizabeth II - custou, no mínimo, 12 mil libras (cerca de US$ 16.300) e provocou emissões de carbono de aproximadamente 2,5 toneladas métricas.

“O príncipe não está pessoalmente envolvido nas decisões quanto aos meios de transporte que usará, apesar de ele garantir que todas as emissões de carbono sejam compensadas todos os anos”, disse um porta-voz na época.

Outros nas redes sociais brincaram dizendo que sentiam uma profunda ligação com o carro movido a laticínio e álcool do príncipe. “Devo ser um velho Aston Martin, pois funciono exatamente da mesma forma”, escreveu um usuário do Twitter.

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