Prisão de executiva chinesa a pedido dos EUA amplia crise entre potências

Meng Wanzhou, diretora financeira da Huawei, foi presa no Canadá na mesma noite em que Donald Trump e Xi Jinping concordaram com trégua comercial; empresa teria violado as sanções comerciais impostas ao Irã

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VANCOUVER, CANADÁ - Uma executiva e filha do fundador da gigante tecnológica da China Huawei foi presa no sábado no Canadá a pedido dos EUA, em um movimento que pode aumentar as tensões entre os dois países que vivem um momento delicado. A empresa teria violado as sanções comerciais impostas ao Irã, mas analistas acreditam que suspeitas de espionagem também tenham pesado na decisão.

Pequim contesta prisão deMeng Wanzhou, diretora financeira da gigante de tecnologia Huawei, e exige explicações de EUA e Canadá Foto: REUTERS/Alexander Bibik

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Há pelo menos dois anos a Huawei enfrenta o escrutínio dos EUA, que consideram a empresa uma ameaça à segurança do país. Alguns meses atrás, Washington expressou preocupação com o uso de produtos da Huawei por funcionários americanos de alto escalão, alegando risco de espionagem em razão dos laços estreitos da empresa com o governo chinês. Os EUA também tentaram persuadir outros países a restringir negócios com a Huawei. 

A prisão de Meng Wanzhou, diretora financeira da Huawei, ocorreu na mesma noite em que os presidentes Donald Trump, dos EUA, e Xi Jinping, da China, concordaram com uma trégua comercial de 90 dias. O assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, disse nesta quinta-feira, 6, que sabia da prisão de Meng, mas não tinha certeza se o presidente Trump havia sido informado.

Meng, que está na Huawei desde 1993, e é vice-presidente da empresa, foi levada sob custódia em Vancouver, no sábado, segundo Ian McLeod, porta-voz do Departamento de Justiça do Canadá. Ele disse que Meng é “procurada” pelos EUA, que haviam feito aos canadenses um pedido de extradição. No entanto, McLeod não deu uma razão para a prisão. Uma audiência de fiança foi marcada para esta sexta-feira, 7.

A Huawei, maior fabricante de equipamentos de telecomunicações da China, está sendo investigada pelo Departamento de Justiça dos EUA por suposta violação de controles comerciais americanos em países como Cuba, Irã, Sudão e Síria. Este ano, o Departamento do Tesouro dos EUA também pediu ao Departamento de Justiça que investigasse a Huawei por violar as sanções econômicas contra o Irã.

Julian Ku, professor da Hofstra University Law School, escreveu no Twitter que a prisão era justificável. “A lei dos EUA proíbe as exportações de certas tecnologias de origem americana para certos países”, afirmou. “Quando a Huawei paga para licenciar certa tecnologia dos EUA, promete não exportá-la para lugares como o Irã. Portanto, não é descabido para os EUA punir a Huawei.”

Além da guerra comercial travada desde que Trump assumiu a presidência, os EUA e a China competem pela supremacia no setor de alta tecnologia. Embora os americanos tenham uma vantagem, as empresas chinesas de internet, fabricantes de semicondutores e de equipamentos de telecomunicações, crescem com rapidez.

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Recentemente, Trump vinculou a segurança nacional dos EUA ao avanço em tecnologias. Em março, Trump bloqueou uma oferta de US$ 117 bilhões da Broadcom pela fabricante de chips Qualcomm, citando preocupações ligadas à segurança do país. Um mês depois, o Departamento de Comércio proibiu a ZTE, segunda maior fabricante de equipamentos de telecomunicações da China, de usar componentes fabricados nos EUA. As autoridades federais americanas disseram que a ZTE havia violado sanções impostas pelos EUA

Detenção de executiva da Huawei derrubou as Bolsas asiáticas, em especial as de Xangai e Hong Kong Foto: AP Photo/Mark Schiefelbein

“A prisão de um membro da família ligado ao fundador da Huawei indica como a tensão entre os dois lados está aumentando rapidamente”, disse T.J. Pempel, professor de ciências políticas da Universidade Berkeley, especializado em Leste Asiático. Evolução. Na última década, a Huawei se tornou uma potência. Fundada em 1987 por Ren Zhengfei, ex-engenheiro do Exército Popular de Libertação e com laços estreitos com o Partido Comunista, a empresa obteve mais de US$ 90 bilhões em receita em 2017. 

Seus equipamentos são a espinha dorsal das redes móveis em todo o mundo e seus smartphones são populares na Europa e na China – o que tornou a empresa um símbolo da evolução tecnológica chinesa no mundo. / NYT e W.POST

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