Prisão de jornalista abre crise entre Venezuela e Chile

Governo bolivariano acusa Santiago de ingerência e dupla moral após país cobrar direitos de cidadão chileno detido durante protesto

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CARACAS - A detenção de um jornalista venezuelano com cidadania chilena agravou nesta terça-feira, 13, as relações diplomáticas entre Santiago e Caracas e até mesmo o Brasil. A diplomacia bolivariana publicou ontem dois comunicado no qual acusou o governo do Chile de “moral dupla” e ingerência em seus assuntos internos por protestar contra a prisão do jornalista Braulio Jatar, detido há duas semanas na Ilha de Margarita, em um protesto contra o presidente Nicolás Maduro. 

No Twitter, a chanceler Delcy Rodríguez criticou as "declarações imorais e descaradas do chanceler de facto, José Serra," que também divulgou nota sobre o caso. 

Batizada de "Tomada de Caracas", a marcha da oposição venezuelana foi qualificada pelo governo chavista comoum plano de golpe de Estado fomentado pelos Estados Unidos Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins

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“Chama a atenção a atuação do chanceler Heraldo Muñoz a favor de cidadãos vinculados à direita venezuelana, envolvidos em graves crimes contra a Constituição”, diz a nota. “São declarações invasivas que mostram categoricamente a dupla moral em matéria de direitos humanos da diplomacia chilena.”

Na segunda-feira, o Ministério de Relações Exteriores do Chile pediu que a Venezuela garantisse os direitos mínimos do jornalista, que está preso em local não divulgado e não teve acesso a advogados e familiares. Caracas destaca que, apesar da cidadania chilena, Jatar é cidadão venezuelano. 

“Não permitimos que nenhum governo nos tutele, muito menos um funcionário que sistematicamente ataca os processos de integração do continente”, acrescenta a nota sobre a chancelaria chilena.  Em Brasília, o chanceler José Serra criticou a prisão do jornalista chileno, também por meio de nota. 

“Estamos muito preocupados com a multiplicação recente de detenções arbitrárias na Venezuela, como a do jornalista chileno Braulio Jatar, ocorridas à revelia do devido processo legal e em claro desrespeito a liberdades e garantias fundamentais”, afirmou o ministro. “Esse é um desdobramento que dificulta ainda mais o diálogo entre governo e oposição, indispensável para a superação da dramática crise política, econômica, social e humanitária que afeta a Venezuela.”

Jatar, de 58 anos, foi detido no dia 3 durante um ato de opositores ao governo Maduro. No total, 30 pessoas foram presas, mas ele é o único que continua detido. Supõe-se que ele continua preso na sede do Serviço Bolivariano de Inteligência na ilha.

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Pressão. Mais cedo, a Assembleia Nacional venezuelana - controlada pela oposição - convocou o diretor do Sebin para prestar esclarecimentos sobre a prisão do jornalista, que também é advogado e empresário. A intenção dos líderes opositores no Parlamento é que o chavismo explique o porquê da detenção. 

“O motivo da convocação é que queremos explicações sobra as detenções de dirigentes da oposição nos últimos dias”, disse a deputada Delsa Solorzano. “O Sebin tem agido como polícia política do regime e não tem competência para abrir uma investigação penal. 

Ainda de acordo com a parlamentar, ao menos quatro membros da oposição, entre eles um prefeito, foram convocados para prestar “esclarecimentos” pelo órgão de inteligência. 

Críticas. No front diplomático, o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al-Hussein, criticou duramente a Venezuela por negar acesso a seus representantes em meio a denúncias procedentes do país que causam “grave preocupação”.

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Zeid Ra’ad Al Hussein disse que o governo de Caracas negou o visto a sua representante regional durante os últimos dois anos e meio. Entre as preocupações citadas por Zeid Ra’ad Al Hussein durante a abertura da 33ª sessão do Conselho de Direitos Humanos figuram a repressão da oposição e dos grupos da sociedade civil, as prisões arbitrárias, o uso excessivo da força contra manifestantes pacíficos, a erosão da independência das instituições e do estado de direito, o dramático declive dos direitos econômicos e sociais, com a fome cada vez mais generalizada e a deterioração do sistema de saúde pública.

“Meu escritório acompanhará de perto a situação no país e expressará suas preocupações em relação aos direitos humanos”, acrescentou. “Os Estados podem fechar nossos escritórios, mas não podem nos calar", afirmou ante os representantes dos 47 membros do Conselho.

Além da Venezuela, também criticou Síria, Irã, Belarus e Turquia, que se negam a cooperar com os especialistas ou negam parcialmente acesso aos observadores./ AFP, EFE e REUTERS

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