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Processo de expurgo é parecido em regimes duros

Figuras em ascensão desaparecem após admissão de ?erros?

Por Roberto Simon
Atualização:

Um nome em ascensão dentro do regime acaba expurgado com grande alarde, acusado de trair a revolução. Em seguida, o "traidor" vem a público e, estranhamente, confirma as acusações ao anunciar o fim de sua carreira no partido. E assim acaba sua existência na história da revolução. O roteiro do afastamento do chanceler Felipe Pérez Roque e do secretário executivo do Conselho de Ministros Carlos Lage não parece novo e poderia ser encarado como um processo inerente a sistemas revolucionários. O expurgo e seus rituais, afirmam especialistas, seriam uma constante na história de regimes de partido único. Diferentemente de Cuba, os exemplos soviético e maoista envolveram milhões de mortes e culminaram em sistemas totalitários. A análise da disputa pelo poder, entretanto, pode revelar semelhanças. "O paralelo com os processos de Moscou é óbvio", afirma o sociólogo e geógrafo Demétrio Magnoli, em referência aos julgamentos soviéticos da década de 30, que limparam a cúpula da URSS de opositores ao ditador Josef Stalin. Ritualmente, os acusados - figuras populares do regime - diziam-se culpados e eram condenados à morte. Assim, Stalin assegurou seu poder total. ?DAZIBAO? A Revolução Cultural chinesa também usou amplamente o expurgo como instrumento de disputa dentro do PC. Para derrotar seus opositores, entre eles o futuro líder Deng Xiaoping, Mao Tsé-tung conseguiu seduzir as massas e monopolizar o processo revolucionário. Depois da morte de Mao, foi a vez de Deng isolar todas as figuras que pudessem ser associada ao ex-líder. Sua viúva, Jiang Qing - a "Madame Mao" - e o restante da "camarilha dos quatro", que comandou a Revolução Cultural, foram sentenciados à morte em julgamentos transmitidos à população. A autocrítica feita por expurgados chineses chegou a ganhar uma denominação própria: "Dazibao". Nos regimes de outros países asiáticos, como Laos e Vietnã, o expurgo também foi recorrente. O caso cubano não foge à regra. Possível sucessor de Fidel Castro, o herói da Baía dos Porcos e líder militar em Angola, Arnaldo Ochoa, estranhamente admitiu a acusação de tráfico de drogas à ele imputada - que levou à sua execução. Em 1999, foi a vez do chanceler Roberto Robaina deixar o círculo de poder, reconhecendo ter cometido "erros políticos e éticos". A falta de clareza nas regras de sucessão desses governos converteria a disputa pelo poder em "tramoias palacianas", diz Magnoli, algo inerente a todos os governos revolucionários desde a França de 1789. Publicamente, acusações de traição, aliança com o inimigo ou corrupção buscam justificar a manobra à população. O historiador da PUC-SP Antônio Pedro Tota também vê semelhanças entre vários casos, mas pede cautela com generalizações. Para ele, a "repetição de padrões históricos é limitada" e, no caso cubano, poderia esconder particularidades do regime. "É impossível, por exemplo, entender a revolução de Fidel sem considerar a cultura e o contexto latino e caribenho", diz.

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