Promotor diz que recebeu ordem para deter López dias antes dos protestos

Franklin Nieves disse que seus superiores o mandaram prender o opositor alguns dias antes dos atos que o fizeram ser condenado

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Por Redação
Atualização:

CARACAS - O promotor demitido Franklin Nieves, um dos encarregados do caso do opositor Leopoldo López e que fugiu do país por uma suposta pressão por parte do governo, disse nesta terça-feira, 27, que seus superiores o instruíram a ordenar a detenção do líder alguns dias antes dos atos que o fizeram ser condenado.

Nieves afirmou em um vídeo divulgado pelo portal de notícias venezuelano Runrunes (assista abaixo) que um de seus superiores o encarregou de deter López no dia 10 de fevereiro de 2014, quando este planejava viajar para a cidade de San Cristóbal para participar de uma assembleia popular, uma viagem que não se concretizou porque o voo do opositor foi cancelado de última hora.

Franklin Nieves, promotor venezuelano, denunciou uso de provas falsas em julgamento do líder opositor Leopoldo López Foto: Reprodução|La Patilla

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“Mandaram eu entrar com uma comissão do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin) em um helicóptero. A instrução que me deram era que se ocorresse novamente protestos com barricadas, Leopoldo López seria preso imediatamente e seria apresentado no tribunal”, disse.

As ações narradas por Nieves ocorreram no começo de 2014, quando o líder do Vontade Popular (VP), junto a outros opositores, promoveu um conjunto de atos contra o governo denominado “La Salida”, para pedir a renúncia do presidente venezuelano Nicolás Maduro.

Dois dias depois, em 12 de fevereiro, Nieves disse que recebeu uma ordem para ir à sede do Sebin “porque começaria uma investigação” pelos atos cometidos durante os protestos, promovidos por, entre outros, Leopoldo López.

“Disseram que eu teria que pedir quatro ordens de prisão, uma contra o cidadão Leopoldo López, uma contra o almirante Ivan Carratú, uma contra o cidadão Fernando Gerbasi e outra contra Carlos Vecchio”, disse.

Nieves entrou no caso na sexta-feira ao garantir em um vídeo que saiu do país com sua família em razão das pressões do governo da Venezuela para formular acusações “falsas” contra o político opositor.

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Outro lado. A procuradora-geral da Venezuela, Luisa Ortega, negou nesta terça-feira que seu escritório fez qualquer tipo de pressão sobre Franklin Nieves, e descartou uma possível libertação de López mesmo após as afirmações do promotor.

“No Ministério Público não pressionamos ninguém”, disse Luisa, ao chamar de “gerais, vagas e vãs” as declarações de Nieves. Ela atribuiu as declarações às pressões externas.

Luisa afirmou que se Nieves estivesse sendo perseguido, não teria conseguido sair do país por Maiquetía, principal aeroporto venezuelano. No momento, a Procuradoria não tomará outras medidas, a menos que a inspeção que está sendo realizada no escritório de Nieves descubra “algum elemento a partir do qual se presuma alguma irregularidade”, disse.

Nieves foi demitido do cargo de promotor, mas não pelo que denunciou e sim porque teria faltado ao seu trabalho por três dias consecutivos, explicou Ortega. López foi condenado em setembro por quase 14 anos de prisão por incitação ao crime, associação para delinquir, dano ao patrimônio público e incêndio proposital durante os protestos de 12 de fevereiro.

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Libertação. Apoiada na denúncia de Nieves, a esposa de López, Lilian Tintori, pediu hoje a “anulação imediata da sentença” e a “libertação imediata” de seu marido, considerado por ela “inocente”.

A declaração do promotor “relata o que se tem denunciado desde o primeiro dia, que hoje a justiça está sequestrada e que há carrascos do regime que acusam, prendem e perseguem injustamente líderes que representam a esperança na Venezuela”, afirmou Tintori em Maracaibo.

Enquanto isso, a coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD), reiterou seu pedido de que a decisão seja anulada e López seja liberado, assim como outros 82 “presos políticos”.

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A sentença tem sido criticada por diversos governos e líderes internacionais, que questionam a independência da justiça venezuelana. /EFE e AFP

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