PUBLICIDADE

Professor de Columbia elogia postura brasileira

Por Agencia Estado
Atualização:

A estratégia comercial do Brasil, privilegiando o Mercosul e tentando retardar a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), está certíssima, para Jagdish Bhagwati, professor de Economia e Ciência Política da Universidade de Columbia, em Nova York. O endosso ao Mercosul vem de um economista que é considerado um dos maiores especialistas do mundo em temas comerciais e é conhecido por suas posições em favor do livre-comércio. Bhagwati também acha que o momento global está maduro para que "potências médias", como o Brasil e a Índia, assumam - possivelmente em aliança - um papel importante no lançamento de uma nova rodada de liberalização comercial. Estes países poderiam jogar seu peso, por exemplo, para evitar que padrões trabalhistas e ambientais sejam inseridos em negociações comerciais. "Acordos comerciais são sobre muito mais do que simplesmente comércio", disse Bhagwati, para justificar a cautela por ele recomendada na negociação do Brasil com os Estados Unidos. Para o professor, uma negociação em que haja de um lado uma potência como os Estados Unidos vai fatalmente incluir muitas concessões a uma série de lobbies americanos. "Se for para beneficiar os trabalhadores de algum país, é melhor que sejam os do seu país do que os do Estados Unidos", observou Bhagwati. Ele lembra que a própria profundidade da democracia representativa americana torna o país um osso duro de roer numa negociação comercial, já que os membros do Congresso defendem ferrenhamente os interesses das suas bases eleitorais, que muitas vezes são opostos aos do país com o qual se negocia. "Se a base eleitoral de um deputado americano for um bando de canibais, pode ficar certo de que ele vai entregar um missionário por dia", diz Bhagawati bem-humorado, citando a frase de um amigo. Na base da visão do economista sobre a estratégia econômica do Brasil, está uma análise sobre as conseqüências para o México do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) que foge radicalmente do consenso. Para Bhagwati, o México perdeu mais do que ganhou com o acordo, e os Estados Unidos foram os maiores beneficiados. Normalmente, a adesão ao Nafta em 1994 é vista como um dos elementos principais que propiciaram a atual boa fase econômica do México, que cresceu acima de 7% em 2000, e multiplicou o volume de exportações nos últimos anos, hoje quase três vezes maiores que as brasileiras, e estão grandemente concentradas em produtos manufaturados. Como mais de 80% das exportações mexicanas vão para os Estados Unidos, a visão convencional é de que o Nafta foi uma das principais causas do boom exportador. Bhagwati discorda totalmente desta visão. Para ele, a boa fase econômica do México e também o crescimento das exportações devem-se às reformas liberalizantes feitas por aquele país e não ao Nafta. "A China também teve um grande crescimento de exportações nos últimos anos, e não é parte do Nafta", disse Bhagwati. O economista parte da idéia de que os Estados Unidos são uma economia basicamente aberta, e que, portanto, não é preciso aderir a um bloco comercial para exportar para o mercado americano. Bhagwati diz que o tipo de problema que o Brasil tem - a política anti-dumping que dificulta as exportações de aço para os Estados Unidos -, ou que o México ainda enfrenta - barreiras a produtos agropecuários, sob a capa de regras de segurança alimentar - podem sobreviver à adesão do país ao bloco como mostra o caso mexicano. "O acordo do Nafta é um documento de duas mil páginas", diz o economista, notando que um tratado neste nível de detalhamento tem necessariamente de incluir muito mais do que a simples liberalização do comércio entre dois ou três países. Ele cita um estudo econômico que contabilizou uma perda anual por "desvio de comércio" de US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões por parte do México em 1995, em função da entrada no Nafta. Segundo o economista, depois de assinar o acordo do Nafta o México subiu as tarifas de importação de 504 ítens - excluindo os Estados Unidos e o Canadá, naturalmente. Com isto, o México teria passado a comprar produtos dos Estados Unidos que poderiam ser adquiridos de forma mais barata em outros países - um caso típico de desvio de comércio. Bhagawati é conhecido como um multilateralista. Ele prefere uma liberalização do comércio global construída por todas as nações simultaneamente à teia de acordos - que ele chama de "prato de macarrão - entre países que existem hoje. Segundo o economista, existem hoje cerca de 400 acordos comerciais. A posição multilateralista torna particularmente interessante, porque aparentemente contraditória, a defesa feita por Bhagawati do Mercosul. Ele acha que o bloco é importante justamente por ser - como tanto insiste o Itamarati - um projeto econômico-político, que vai muito além de uma simples área de livre-comércio. Bhagawati acha positivo que um mercado comum seja criado na região, e cita o exemplo da União Européia (EU) como um modelo do qual se deve tirar lições. Mas ele vai mais longe e acha também que o Mercosul, e o seu hipotético desdobramento em união entre todos os países da América do Sul - outro desejo do governo brasileiro - daria, efetivamente, mais munição para o Brasil negociar a Alca e o seu futuro comercial com os Estados Unidos. Curiosamente, Bhagwati não considera que o poder de barganha internacional do Brasil esteja no seu mercado interno, nem na capacidade de o País usar, como moeda de negociação, as suas tarifas ainda relativamente altas quando comparadas com países de orientação mais liberal. Para ele, os outros países do mundo simplesmente não comprarão aquelas barganhas. Para o economista, a força do Brasil vem do poder derivado do seu tamanho, do dinamismo econômico e da projeção internacional. "O Brasil tem uma personalidade independente", disse Bhagawati, lembrando que o País manifestou posições autônomas, por exemplo, em algumas questões da rodada Uruguai do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (Gatt). Segundo Bhagawati, "personalidade independente" é algo que simplesmente alguns países têm e outros não, ou que alguns têm mais do que os outros. Ele acha, por exemplo, que os dois outros países economicamente importantes da América Latina, o México e a Argentina, são bem mais inclinados a compor com os interesses dos Estados Unidos. É exatamente esta posição de força relativa que faz com que Bhagawati chame o Brasil de "potência média", classificação também estendida à Índia e até a uma economia bem menor, como a África do Sul. Ele acha que, caso o Brasil assuma uma posição de liderança nas negociações comerciais multilaterais, ele teria o apoio da Índia e de países do leste asiático para, por exemplo, opor-se à imposição de cláusulas trabalhistas e ambientais. Para Bhagwati, o Brasil deveria continuar baixando as suas tarifas, mas de forma gradual, e cuidando atentamente das consequências regionais e locais em termos de empregos e até da sobrevivência de empresas e setores. "Eu não acredito em terapia de choque", disse o economista. No momento, ele está justamente escrevendo um livro sobre os efeitos sociais indesejados da globalização, em que vai estudá-los e pensar em soluções. Fernando Dantas Leia mais: 28/01 Teleconferência fez contraponto a Davos Líder francês diz que usa os métodos do MST Em Davos, o especulador George Soros se diz "desapontado" com acusações Debate entre Davos e Porto Alegre teve insulto e constrangimento Em Davos, ongs vão protestar contra repressão Belga critica posição "moderada" do PT sobre dívida externa Secretário da ONU critica sistema de patentes Sucesso pode tirar o fórum de Porto Alegre Parlamentar cubano chama de "farsa" a eleição de Bush Confirmada teleconferência entre fóruns Índios lutam para ingressar na sociedade Suplicy encontra aliados para o Renda Mínima Africanos denunciam falta de tratamento à aids Porto Alegre e Davos se enfrentam hoje Lula emociona Fórum, mas nega candidatura Ministro francês é criticado em Porto Alegre 27/01 Bové e Hoffmann fazem aliança contra transgênicos De anarco-punks a índios, é variado o público do Fórum Social CUT promete fazer a "Seattle do Sul" EUA e Japão ditam rumos da economia global Lula dá testemunho pessoal no Fórum de Porto Alegre ONGs protestam contra repressão em Davos Parlamentar suiço chama de "cretinice" a repressão em Davos Suiços protestam em Porto Alegre contra repressão em Davos OMC pode ter nova rodada global de negociações Polícia contém manifestantes em Davos Espanhol propõe, no Fórum Social, "refundar" a esquerda México vai investir na integração indígena Governadores de esquerda lançam manifesto no Fórum Social 26/01 Via Campesina quer união contra transgênicos Para o Fórum, era atual é da "globocolonização" Marta vira "estrela" do Fórum Social Fórum deve propor medidas contra a violência Davos e Porto Alegre: briga titânica Lula garante que não é contra globalização Agricultores contra transgênicos em Porto Alegre 25/01 Marcha contra o neoliberalismo reúne mais de 10 mil Para Lula, fórum social "veio para ficar" Davos debate "2ª fase" da globalização Pratini critica protecionismo agrícola de países ricos Fórum Social é aberto em Porto Alegre Stédile defende extinção da OMC Brasil é homenageado com Fórum Social Fórum Social e Fórum econômico começam hoje Fórum Econômico Mundial tem início tranqüilo

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.