Promessa de ajuda não cumprida

A falta de consideração dos EUA pelo México e sua luta contra cartéis nos últimos dois anos chega a impressionar

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Por Jackson Diehl
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THE WASHINGTON POSTNo mês passado, 303 pessoas foram assassinadas no município mexicano de Ciudad Juárez, na fronteira com os Estados Unidos, junto a El Paso. Entre os mortos deste mês estão três homens assassinados por um sofisticado carro-bomba guiado por controle remoto - o primeiro caso do tipo na guerra das drogas no México. Numa cidade de 1,2 milhão de habitantes, mais de 2.600 pessoas morreram de forma violenta em 2009; outras 200 mil podem ter deixado seus lares.Enquanto isso, em Washington, o Gabinete de Responsabilização do Governo elaborou uma lista de promessas de ajuda feitas ao México pelos EUA desde 2008, mas não cumpridas. Entre as ofertas estão helicópteros, aviões para patrulhamento marítimo e de espionagem.Desde o fim da Guerra Fria, o tratamento negligente dispensado por Washington à América Latina foi praticamente transformado numa arte, praticada tanto pelos governantes republicanos quanto pelos democratas. Mas a falta de consideração pelo México demonstrada nos últimos dois anos chega a impressionar.O governo Felipe Calderón - um moderado pró-EUA que em 2006 derrotou um candidato esquerdista por pequena margem de votos - está envolvido numa batalha com os cartéis de drogas que determinará se o país vai permanecer uma democracia modernizante ou mergulhar na direção do status de Estado fracassado. Por sua violência e terror, esta guerra não difere muito daquelas no Iraque e no Afeganistão. Mais de 50 mil soldados mexicanos foram mobilizados para combater os cartéis; cerca de 25 mil pessoas foram mortas em menos de 4 anos.Os EUA não ignoraram a crise por completo. Mas seus esforços foram tardios, escassos e prejudicados pela burocracia. O governo Obama propôs um orçamento de US$ 10,7 bilhões para programas de estabilização civil no Afeganistão e no Paquistão para 2011; foram requisitados US$ 300 milhões para ajudar o México. O Congresso designou US$ 3,6 bilhões para a construção de uma cerca ao longo da fronteira entre México e EUA, com o objetivo de afastar os imigrantes ilegais. Para a Iniciativa Mérida - programa desenvolvido para ajudar a campanha mexicana de combate às drogas -, foi designado US$ 1,3 bilhão desde 2008. Até março deste ano, apenas US$ 121 milhões desse orçamento - cerca de 9% do seu total - foram realmente gastos. Na guerra do México, os EUA desempenham também o papel de fornecedor do inimigo. Num debate promovido na semana passada em Washington, o embaixador mexicano Arturo Sarukhán destacou que a esmagadora maioria das armas e do dinheiro que chegam aos cartéis vinha dos EUA. Calderón pediu ao Congresso americano que adotasse de novo a proibição federal à venda de armas de assalto e pusesse fim à venda ilegal de armas aos mexicanos. Praticamente nada foi feito.O embaixador sustentou que, apesar da falta de cooperação, "o relacionamento diplomático entre México e EUA está tão forte quanto nos últimos anos. Mas do nosso lado da fronteira, os cidadãos mexicanos acreditam que estamos pagando um alto preço por aquilo que é visto principalmente como responsabilidade dos americanos". / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL É EDITORIALISTA

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