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Promessa de campanha de López Obrador, casa presidencial mexicana está aberta ao público

Maior que a Casa Branca, Los Pinos recebeu mais de 80 mil visitantes no sábado e no domingo; palácio presidencial pode integrar circuito histórico da região

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Por Redação
Atualização:

CIDADE DO MÉXICO - Pela primeira vez em 83 anos, milhares de mexicanos desfrutam dos ambientes de Los Pinos, que até a sexta-feira 30 de novembro era a residência presidencial do México, mas Andrés Manuel López Obrador (AMLO) decidiu não ocupar para convertê-la em espaço público.

Mexicanos fazem fila na frente da residência presidencial Los Pinos, aberta ao público desde 1º de dezembro como uma das promessas de campanha de López Obrador em abraçar uma "austeridade republicana" Foto: CLAUDIO CRUZ/AFP

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Entre o assombro e o desconcerto, os primeiros visitantes caminharam entre os primorosos jardins com pinheiros, que dão nome à residência, e as luxuosas mansões que compõem o conjunto arquitetônico. A rota de pedras, chamada Calçada dos Presidentes por ter estátuas dos ex-mandatários que ali residiram, sugere o papel que Los Pinos teve na história do país.

Depois de percorrer a casa Miguel Alemán, nomeada assim pelo presidente que mandou construí-la, que deslumbra pelo hall e por uma majestosa escadaria, a comerciante Alejandra Barreto, de 50 anos, estava impressionada. “É bastante ostentosa, nunca imaginei que houvesse um lugar assim”, disse Alejandra sobre o imóvel, onde morava a família do hoje ex-presidente Enrique Peña Nieto. “Os espaços são enormes, é para viver só uma família?”, questiona a mulher, de visita na capital do México.

O percurso pela residência mostra os locais de trabalho do escritório presidencial, utilizada por Peña Nieto e seus antecessores, Felipe Calderón e Vicente Fox. No segundo andar, está a câmara presidencial, que inclui um dormitório e um closet, de 30 m² a 40 m² cada um. Também há uma espaçosa sala de televisão.

Residência “faraônica”

O sótão, que, segundo policiais militares que vigiam Los Pinos, era usado para entretenimento e trabalho, inclui um cinema privado com 35 poltronas de couro reclináveis e uma sala denominada “O Bunker”, com 20 lugares e cinco telas grandes. Foi implementada por Calderón, responsável por lançar no final de 2006 uma polêmica ofensiva militar contra o crime. “Para as reuniões mais importantes, para que não tenha distração alguma, eles se trancavam (aqui)”, explica um dos vigias noturnos.

De volta ao andar de baixo, outro vigia afirma que a sala de jantar, com uma mesa retangular de 28 lugares, era usado cotidianamente pela família de Peña Nieto. “É uma situação faraônica, é irreal para qualquer mexicano”, disse o Gilberto Gutiérrez, de 30 anos e dirigente do Morena, o partido de López Obrador.

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Para Gutiérrez, esses luxos desvirtuam a ideia original do presidente Lázaro Cárdenas, que criou o complexo em 1935 para se afastar da opulência de Castillo de Chapultepec, a antiga residência presidencial e hoje sede do Museu de História. Os outros edifícios, batizados com nomes de ex-mandatários, alojam principalmente escritórios.

E, ainda que Fox e Calderón tenham optado por viver no imóvel chamado “Las Cabañas”, adaptando a extravagante casa Alemán como lugar de trabalho, Peña Nieto decidiu restaurá-la como casa.

Espaço para as pessoas

Los Pinos “é um espaço que marca a distância enorme entre o resto da população e mostra sobretudo a ostentação em que viveram os políticos do país”, disse o analista político Herán Gómez, que se somou à primeira onda de visitantes.

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Com uma área de 56 mil m², Los Pinos é 14 vezes maior que a Casa Branca, segundo dados oficiais, e a decisão de não ocupá-la se alinha com a ideia de “austeridade republicana” de López Obrador. Antes da posse, o mandatário disse que cortará seu salário em menos da metade, que venderá um luxuoso avião presidencial e ordenou dissolver sua guarda de segurança, composta por milhares de soldados.

Mas nem todos reprovam os luxos de Los Pinos. “(A casa) É majestosa, todos os materiais que se veem, como as madeiras, são muito finos e elegantes. É incrível que se esteja dando essa oportunidade à nação”, disse Zully Montiel, universitária de 20 anos.

Inaugurada em 1935, Los Pinos abriga o escritório e acomodações do presidente do México e, com a abertura ao público, pode integrar o circuito histórico doBosque de Chapultepec Foto: CLAUDIO CRUZ/AFP

A abertura da residência presidencial, que ocorreu junto com a posse de López Obrador, resultou em seus jardins tomados de centenas de pessoas que comemoravam a cerimônia de empossamento, exibida em telas grandes. “Rompe com paradigmas de tudo o que temos vivido no México. Desde que tenho memória, jamais havia sentido que o poder estava nas mãos do povo”, disse Ileana Ramírez, empregada de 43 anos, depois de ver o discurso.

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O futuro da residência, que recebeu no sábado1.º de dezembro em torno de 25 mil visitantes e 60 mil no domingo, ainda não foi definido. Ao estar dentro do Bosque de Chapultepec, espaço que compõe museus, um zoológico e outras atrações, é provável que a casa termine se integrando ao circuito. “Pouco a pouco irá, com muito diálogo com a cidadania, construindo sua própria vocação”, disse Antonio Martínez, funcionário do ministério da Cultura. / AFP

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