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Promessas de Kerry frustram países da OEA

Em aguardado discurso, secretário 'pula' temas sensíveis e silencia sobre estratégia regional

Por CLÁUDIA TREVISAN , CORRESPONDENTE e WASHINGTON
Atualização:

Embaixadores e representantes de organizações internacionais que se reuniram ontem na Organização dos Estados Americanos (OEA) para ouvir discurso no qual o secretário de Estado John Kerry apresentaria a política dos EUA para a região saíram frustrados com a falta de substância do pronunciamento e a ausência de uma visão estratégica para o relacionamento com a América Latina.Kerry ignorou a questão da imigração, crucial para países como México e El Salvador, falou de passagem do mal-estar provocado pela Agência de Segurança Nacional (NSA) e dedicou boa parte do discurso a criticar Cuba, país que não é membro da OEA, mas com o qual todos os demais integrantes têm relações diplomáticas. Com o fracasso de iniciativas anteriores de integração comercial e a rejeição cada vez maior da política de combate às drogas, Kerry defendeu a integração energética e ações para mitigar mudanças climáticas como temas de cooperação na região. Nenhum das duas questões é tratada pela OEA. "Parecia um discurso feito para outra plateia", observou um diplomata ouvido pelo Estado. O secretário silenciou em um ponto que interessa diretamente à entidade: a decisão do Congresso americano de limitar sua contribuição financeira a 50% dos gastos totais da OEA. Atualmente, os EUA bancam quase 60% das despesas.Peter Hakim, presidente emérito do Diálogo Interamericano, acredita que a falta de substância do discurso reflete a ausência de uma política para a América Latina do presidente Barack Obama. "Não me lembro de uma administração menos envolvida com a região do que essa", afirmou Hakim, que vê com ceticismo a proposta de usar integração energética e a mudança climática como canais para fortalecer o relacionamento. "Não há acordo nem dentro dos EUA sobre isso e até hoje não conseguimos integração energética com o Canadá."A iniciativa da realização do discurso partiu de Kerry, que em novembro do ano passado, ainda na condição de senador, enviou uma carta ao conselho permanente da OEA com críticas devastadoras à administração da entidade. Assinado por ele e outros três senadores da Comissão de Relações Exteriores, o documento atacava a "paralisação administrativa", a "falta de foco estratégico" e a resistência na adoção de "decisões financeiras difíceis". Apesar de seu nome não estar na carta, o alvo das críticas era o secretário-geral da OEA, o chileno José Miguel Insulza, que ontem recebeu Kerry na sede da entidade. Além de criticar Cuba, Kerry também censurou o enfraquecimento de instituições democráticas na Venezuela.O único momento em que houve aplausos antes do fim do discurso foi quando ele afirmou algo repetido inúmeras vezes por autoridades americanas nas últimas décadas: "A era da doutrina Monroe acabou", disse. Kerry citou ainda o escritor brasileiro Paulo Coelho: "Quando menos esperamos, a vida coloca diante de nós um desafio para testar nossa coragem e nossa vontade de mudança".

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